Após longo período como eremita e bombardeado por problemas econômicos, administrativos e políticos, o governador José Melo (Pros) voltou à cena política para demonstrar que não foi a nocaute e que está no comando do Governo do Estado. Falou isto literalmente em entrevista à Rádio Tiradentes, na terça-feira, 13, e reabriu as portas do Palácio do Governo para dar entrevistas mostrando que ele existe.
O governador tentou exibir ânimo, vigor e que está no poder e comando do grupo. O ânimo e o vigor convenceram mais que o poder de comando. Isso porque, na entrevista, ao ser questionado sobre a base do Governo na Assembleia Legislativa, José Melo disse que conta com 19 votos, até de deputados que não compõem a base. Menos de uma hora depois parte da própria base mostrou que não é bem assim que a banda toca.
Este novo momento do governo não está nem um pouco alinhado com base. Na sessão da terça-feira, o deputado Orlando Cidade subiu à tribuna e, numa crítica indireta ao Executivo, elogiou o governador tucano do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin pela eficiência na gestão. Os deputados Dermilson Chagas e Platiny voltaram a criticar com palavras duras o Governo Melo.
Mas o maior descompasso ficou exposto na votação da flexibilização dos recursos do FTI. O Governo já havia cedido na proposta inicial após reclamação da oposição e da base. Recuou para que tivesse liberdade de mexer no recurso pelo período de um e não dois anos como era a proposta original, mas, na hora da votação, deputados da base tentaram obstruir. Não conseguindo, votou contra para impor constrangimento ao Governo.
Tudo numa ação deliberada dos deputados que começaram o governo apoiando Melo, porque a oposição ligada a Eduardo Braga (PMDB) sumiu do plenário na hora da votação e os deputados que mais abertamente flertam com o grupo adversário a Melo votaram a favor do Governo nesta proposta. Como, por exemplo, Adjuto Afonso (PDT) e Ricardo Nicolau (PSD).
Quem votou contra teve muitos motivos para isso. O primeiro é que querem demonstrar compromisso com a população do interior, onde conseguiram suas vitórias em 2014. O segundo, mostrar ao líder do Governo, David Almeida, que ele não consegue manter o grupo coeso. David, no entanto, teve habilidade porque percebeu ausências no plenário e que tinha votos suficientes para aprovar a proposta do governador.
Outro motivo da base foi deixar claro ao governador que ainda estão insatisfeitos com o tratamento dado aos aliados. Nesta quarta-feira, 14, deputados repercutiam a declaração de José Melo, indicando que hoje “ninguém tem 19 votos na ALE”.
O contexto da vitória e os movimentos dos deputados nas últimas semanas mostram que José Melo vai precisar de muito mais que uma simples declaração de que está no comando para evitar perdas e danos, sobretudo no Legislativo.
E precisa ser rápido, porque a eleição para a presidência já é na próxima semana, e, nesta quinta-feira, deve ser votada a Lei Orçamentária Anual de 2017, cuja maior preocupação do governo e da ALE, apesar dos inúmeros cortes em áreas sensíveis para a população, são as emendas impositivas dos deputados.