Ser maquiavélico pode parecer um defeito aos olhos dos ignorantes, mas O Príncipe traz ensinamentos que, ignorados pelo político, podem resultar em derrota. Eis o que reza a cartilha de Maquiavel: “É melhor ser amado do que temido ou o contrário?”, questiona, e responde: “Responde-se que se quer ser tanto um quanto o outro. Mas como é difícil reuni-los, é mais seguro ser temido do que amado, no caso de ser preciso renunciar a um dos dois”.
Pois bem: qual a opção do governador José Melo (Pros)? O governador tem tido um comportamento titubeante diante dos inúmeros problemas que lhes são demandados e tem tentado a opção contrária, ou seja, busca mais ser amado do que temido. Maquiavel adverte que “ao príncipe novo é impossível evitar a fama de cruel, por serem os Estados novos cheios de perigos”. Melo parece não ter-se dado conta disso.
Vejamos um exemplo crasso: a reforma administrativa foi demandada a uma equipe de governo, comandada pelo irmão dele, o ex-secretário Evandro Melo, e pelo secretário chefe da Casa Civil, Raul Zaidan. Questionado sobre nomes que ficariam no governo e que deixariam as pastas, durante a visita do governador à Assembleia Legislativa para a leitura da Mensagem Governamental de 2015, Melo disse que ainda iria tomar pé do assunto. Para o dia seguinte, ele prometia a apresentação da reforma, que incluía corte de cargos, eliminação de secretarias e a definição de nomes para ocupar os postos de comando do primeiro escalão. Inquerido se não havia participado do processo de discussão da reforma, Melo saiu-se com um “eu dei as coordenadas para a equipe e agora vou ver o resultado”.
Como admitir a um governante a delegação a terceiros de algo tão importante quanto a escolha de sua equipe de trabalho? Nem o mais desatento dos gerentes de uma empresa de pequeno porte adotaria tal postura, sob pena de ser engolido pelos próprios súditos. Em um momento em que todos os olhares estão voltados para as mexidas que o governo vai dar na administração, o chefe do Executivo não pode atuar como espectador, mas como ator principal.
Mas não é só. O discurso de José Melo, há muito, não transmite confiança. Desde a posse, ele tem-se mostrado inábil no trato de assuntos de Estado. Faz piada para tentar ganhar a simpatia da plateia, mas só consegue mostrar a incapacidade de compreensão dos problemas e de apontar soluções. Isso ficou demonstrado em dois discursos na semana passada: na Assembleia Legislativa e na Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, onde foi chamado pelo empresariado local para ouvir as demandas do setor produtivo.
Nos dois casos, o governador deixou a sensação de que o seu governo vai fazer muito pouco para melhorar os índices que depõem contra o Estado do Amazonas no cenário nacional. Entre os deputados, a avaliação dos mais independentes foi que Melo falou muito e disse pouco. Entre os empresários, ficou a sensação de que o governador não conseguirá o papel de liderança que a indústria espera na defesa do Polo Industrial de Manaus.
Melo chegou a dizer que confia na presidente Dilma e no novo ministro Armando Monteiro para resolverem os problemas de competência da União que afetam a indústria do Amazonas, quando o discurso dos empresários é de enfrentamento do Planalto, que nos últimos quatro anos, sob o comando de Dilma, mergulhou a Suframa na sua mais aguda crise da história.
Melo teima em adotar o discurso do político bonzinho, amigo de todos e todas. Busca o governador ser amado, quando o momento exige que ele seja temido. Mas, quem teme José Melo?
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.