Da Redação
MANAUS – Ao confirmar pré-candidatura para deputado estadual em entrevista ao ATUAL, na tarde desta quarta-feira (24), o ex-governador José Melo (Pros) disse que seu erro como governador foi enfrentar as “oligarquias que mandam no Amazonas” e “confiar em quem não devia”.
“Eu cometi um erro fundamental. O Brasil, desde as Capitanias, foi o país das oligarquias. Você vai no Nordeste são as mesmas famílias desde as capitanias hereditárias que estão lá. São Paulo é a mesma coisa. São as oligarquias que mandam no Amazonas há muito tempo”, disse.
Cassado por compra de votos em maio de 2017, José Melo foi preso na Operação Estado de Emergência, em dezembro do mesmo ano. A ação é desdobramento da Operação Maus Caminhos, que investigou desvios de R$ 117 milhões na saúde pública do estado.
Secretário nos governos de Amazonino Mendes, Omar Aziz e Eduardo Braga, José Melo disse que, como filho de seringueiro, resolveu quebrar o tabu de governar sem as oligarquias.
“Enfrentei essas oligarquias. Ganhei uma eleição no voto, na vontade popular, e perdi no tapetão. Meu adversário entrou na Justiça e, enfim, acabei sendo cassado por compra de votos”, lembrou.
“Só que a dona Nair Blair, que meu adversário utilizou como a pessoa que tinha comprado voto, agora ela foi inocentada. Qual foi o meu erro? Confiar em quem não deveria. Dentro dessas oligarquias essa questão confiar não existe”, disse, sem citar nomes.
Ao ser questionado se não fez parte das oligarquias, o ex-governador respondeu que era o carregador do piano. “O piano que eu carreguei para esses políticos todos era muito pesado. Eu era o número 5, ficava no meio de campo, fazia tudo. Mas na hora que eu disse ‘eu não quero mais ser o meio de campo, deixa eu cabecear uma bola no gol’, aí um representante dessas oligarquias, que é o Eduardo Braga, disse: não, mas eu quero de novo”.
Segundo Melo, o senador Eduardo Braga (MDB) agiu para retornar ao governo. “Ele tinha o compromisso de me apoiar. Ele tinha o compromisso de me apoiar para governador”, lembrou. Melo disse que ajudou Braga a derrotar Amazonino, em 2006 na disputa à reeleição, com o compromisso que depois ele o apoiasse para governador.
Na ocasião, o vice de Braga foi Omar Aziz (PSD), que se tornou governador em 2010, quando Braga se desincompatibilizou para disputar vaga ao Senado. “O Omar pleiteou a reeleição dele, e eu me recolhi, porque achei que era justo”.
Melo contou que quando Omar deixou o governo para disputar o Senado e ele se tornou governador, procurou Braga. “Eu fui cobrar minhas contas para o Eduardo, disse, ‘Agora quero ser governador’ [candidato à reeleição]. Ele disse: ‘Não, agora quero ser de novo’. Então eu disse: ‘Vamos disputar, nós dois'”.
Segundo Melo, ele decidiu enfrentar Braga para não ceder à pressão do ex-governador na época. “Ele [Braga] me disse: ‘Tu achas que eu vou perder eleição para um professorzinho do interior?'”.
O retorno
José Melo disse que decidiu retornar à política, depois de deixar a prisão, porque tem um projeto de nova matriz econômica para o estado que pretende implementar como legislador.
“Essa outra matriz é explorar essas riquezas naturais. Transformar essas riquezas em produtos que pudessem gerar emprego e renda”. Segundo ele, a cassação do mandato o impediu de fazê-lo.
Sobre recomeçar do zero, o ex-governador disse que está “renascendo das cinzas”. “Não tenho vaidades. Não me causa nenhuma morsa tendo ido ao mais alto e voltar para o primeiro degrau da escada. Não me causa nenhum constrangimento voltar ao primeiro degrau da escada”.