Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – No depoimento à juíza Ana Paula Serizawa, na quinta-feira, 8, o ex-governador José Melo citou, em três momentos, a família Aziz, que também é investigada no âmbito da Operação Maus Caminhos, que apura desvio de dinheiro público em contratos da Saúde do Amazonas.
Ao falar sobre a acusação do MPF (Ministério Público Federal) de ser o chefe do núcleo político da organização criminosa, Melo disse que à época em que era vice-governador, Omar Aziz era “muito centralizador” e que “apenas substituía o governador nas faltas e impedimentos”.
Melo disse que ao assumir o comando do Estado em abril de 2014, “por questão de ética” e por dedicação à sua campanha à reeleição, ele manteve todos os programas e projetos implantados por Aziz que estavam em andamento.
O ex-governador também disse todos os secretários e presidentes de órgãos que existiam no governo de Omar foram mantidos nos cargos.
“Eu, por uma questão de ética e também por uma questão de que eu estava logo em seguida disputando a minha reeleição, eu respeitei o andamento de todos esses projetos como respeitei também praticamente todos os secretários, presidentes de órgãos que existiam no governo dele, enquanto eu lutava para tentar ganhar uma eleição, a minha reeleição”, afirmou Melo.
Melo disse que após tomar a direção do Estado, deixou a gestão nas mãos dos secretários de Omar porque as intenções de votos para ele estavam em 1,5%, enquanto que o adversário tinha 67% do eleitorado amazonense, conforme as pesquisas divulgadas à época.
“Eu vislumbrei que a única maneira que eu tinha de mudar isso era em uma relação direta com o povo. Então, eu passei praticamente cinco meses desse período de abril até o dia da eleição nas ruas, quer seja aqui em Manaus, quer seja no interior. Enquanto isso, o governo andava”, disse o ex-governador ao negar que tenha cometido crimes.
Melo disse que só tomou conhecimento do esquema criminoso quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Maus Caminhos e que antes disso “não havia nada que indicasse a existência de organização criminosa”.
“Até então, as informações que se tinham é que havia um grupo de empresas, inclusive estas que trabalhavam na saúde, prestando serviços à saúde, e que tinham contratos vultuosos e que nós tomamos providências para cortar todos eles”, afirmou.
Café da primeira-dama
Em outro momento, ao ser questionado se a mulher dele, a ex-primeira-dama Edilene Gomes de Oliveira, conhecia o médico Mouhamad Moustafa, apontado como chefe da organização criminosa, Melo contou um relato feito pela esposa envolvendo a mulher do empresário Murad Aziz, irmão de Omar.
De acordo com Melo, Edilene disse que a mulher de Murad Aziz, “que é amiga dela de muitas datas”, a convidou para tomar café e “quando ela estava tomando o tal do café, chega esse tal de Mouhamad que lhe foi apresentado”. Nesse momento, segundo Melo, o médico pediu serviços do Estado, mas a então primeira-dama “saiu esculhambando todo mundo” e nunca mais voltou a falar com a mulher de Murad.
“Aí vieram com uma conversa fiada pra cima dela. Olha, doutora Ana, a Edilene é uma pessoa de tratos rudes, que ela era uma menina pobre, é uma pessoa que não leva desaforo pra casa, mas eu não conheço uma pessoa mais visceralmente honesta que ela”, afirmou Melo, ao dizer que Edilene não tratava de serviços do Estado.
Protesto orquestrado
Ao final do depoimento, ao ser questionado sobre as manifestações contra a proposta de transformar SPAs (Serviços de Pronto Atendimento) em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) em 2016, Melo disse que à época não conseguia entender porque “o mundo desabou em cima de uma proposta que iria atender o povo de forma correta”, mas que informações divulgadas recentemente o ajudaram a entender.
O ex-governador leu um texto de sua própria autoria escrito na noite anterior ao interrogatório:
“Hoje, tenho convicção de que as manifestações públicas de servidores da saúde, do povo, de grupos organizados, de políticos e a forma atroz, impiedosa, sistemática com que a imprensa tratou a matéria era, na verdade, orquestrada e financiada por aqueles que de alguma forma iriam perder as receitas com a nova matriz da saúde, sem falar dos interesses não confessados de determinados políticos em não permitir que o nosso governo tivesse o êxito político nesse programa”, afirmou Melo.
No último dia 19 de julho, na Operação Vertex, o “ponto alto” da Maus Caminhos, a Polícia Federal afirmou que Omar Aziz e o advogado Lino Chíxaro agiram para brecar a reforma administrativa no governo Melo. Segundo a PF, a medida pretendida impactaria no faturamento do INC (Instituto Novos Caminhos), que geria a UPA Campos Salles, pois caso fosse colocada em prática, a unidade estadual passaria a ser gerida pela Prefeitura de Manaus.
Em trecho da decisão, o juiz, citando relatório da PF, diz: “Mouhamad tem ajuda de Lino Chíxaro para fazer valer suas razões diante de Omar Aziz, o qual aparentemente ordena ao secretário estadual de Saúde à época, Pedro Elias, a reverter a reforma administrativa intentada pelo Estado”.
Por que será que nao investigam os contratos da Seduc, da primera ADM, de Amazonino até Melo?