Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Saber qual hospital procurar segundo a gravidade do caso não está claro para a população e para combater isso é preciso um trabalho de divulgação e educação em saúde no Amazonas, defende o médico Isaac Tayah, professor da Faculdade de Medicina da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), do Departamento de Clínica Cirúrgica.
Isaac Tayah afirma que as pessoas chegam aos prontos-socorros acreditando que podem encontrar atendimento para todos os casos, quando na verdade a rede de saúde é dividida segundo a complexidade da situação.
“Vai passando governo sobre governo e não fazem a informação à população, fazem de conta que todo mundo sabe. Mas não sabem, porque existe muita gente chegando aí do interior e vai direto para o pronto-socorro pensando que lá é solucionável o problema deles”, critica.
A demora para encontrar a unidade de saúde direcionada a cada caso atrasa o diagnóstico e tratamento. “O paciente de câncer, por exemplo, se ele chegar direto no local que não é oncológico ele acaba sendo direcionado para o hospital do câncer, que é a FCecon. E lá só entra o paciente que for biopsado. Aquele que fez a biópsia, que comprove que tem a doença, vai para lá”, diz.
“Mas aquele paciente que roda, roda, roda ele não sabe que está com a doença. Quando sabe, sabe no pronto-socorro e acaba trazendo um prejuízo muito grande”, continua.
A demora para conseguir consultas também contribui para que a população busque unidades de alta complexidade para atendimentos menos graves, afirma o médico.
“Se você entrar em qualquer pronto-socorro tem muita gente que não é para lá. Por exemplo, dor de cabeça não é para lá. O pessoal procura o pronto-socorro porque é mais rápido”, diz.
“O Sisreg (Sistema de Regulação) marca nas UBSs ou nos postos o atendimento da consulta. Às vezes demora de 30 a 90 dias para dar um atendimento. Então a pessoa acha que pode procurar um pronto-socorro, muito mais rápido porque é atendido no mesmo dia, mas não tem o resultado do diagnóstico. Alguns exames podem ser feitos, mas vai depender do caso de cada um”, afirma.
Consultada, a Secretaria de Estado de Saúde informou que os hospitais prontos-socorros são unidades porta-aberta para casos de trauma e politrauma, de alta complexidade, referenciados ou não, via Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
“Essas unidades atendem, de forma preferencial, pacientes com quadro clínico grave de risco à vida ou de lesão irreparável, de urgência e emergência, conforme os protocolos de acolhimento e classificação de risco”, respondeu a pasta.
A secretaria afirma que os casos menos urgentes como ferimentos menores, febres, dores, resfriados e diarreia são classificados de baixo risco e os pacientes devem ser atendidos em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou SPA (Serviço de Pronto Atendimento), mais próximo da residência ou para uma UBS (Unidade Básica de Saúde).
De acordo com a Secretaria de Saúde, os hospitais prontos-socorros usam o protocolo internacional de classificação de risco de Manchester, e também o protocolo de gestão de atendimento Lean nas Emergências, que por modelo de atendimento não atende mais pacientes de classificação de risco baixo.
“Essa classificação tem objetivo de reduzir o tempo de espera do paciente sendo orientado onde ele pode ser atendido de forma mais célere, pois em caso de resfriado ele não terá prioridade em um HPS e um caso de urgência e emergência não terá o atendimento de maior resolutividade em uma UBS, UPA ou SPA”, explica a secretaria.
A pasta acrescenta que quando o paciente dá entrada em um SPA ou UPA, caso exista a necessidade de avaliação especializada por exames laboratoriais e de imagem complementares ou de alta complexidade, é encaminhado para as demais unidades da rede de urgência, transferidos via Sister (Sistema de Transferência de Emergência Regulada).
Com o mesmo objetivo de reduzir o tempo de espera, a secretaria afirma que está reorganizando o serviço de média complexidade em pediatria através da mudança dos Caics (Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) para o perfil Caic +Especialidades.
“O atendimento nestas unidades, via Sistema de Regulação, é para atender uma demanda reprimida na rede por especialidades médicas em pediatria, buscando reduzir o tempo de espera por esses procedimentos”, informou.
Isso significa que o primeiro atendimento pediátrico é feito na Atenção Básica, podendo ser realizado em uma UBS, para posterior encaminhamento a um Caic +Especialidades. O Caic Ana Braga é o primeiro nesse perfil.
De acordo com a pasta, o objetivo é evitar a piora de doenças crônicas em pediatria, para que não resultem em internações em unidades de alta complexidade nos Hospitais Prontos-Socorros da Criança, no Instituto de Saúde da Criança do Amazonas e no Hospital Infantil Dr. Fajardo.
Educação em saúde
Isaac Tayah defende que haja uma parceria entre a Secretaria de Estado de Saúde com a mídia para divulgar como funciona a rede estadual de saúde. “A gente podia tentar usar o meio de mídia para informar a população. Senão, todo paciente vai procurar o que for mais próximo da casa dele”.
Além da divulgação através das mídias sociais e meios de comunicação, o médico sugere panfletagem no trânsito e reuniões com líderes de bairros.
“O que deve fazer com o paciente que está na rua, por exemplo, e tiver um infarto ou que caiu da moto, que é muito comum, aí você quer ajudar e quando chega lá o que é que vai fazer? Então os líderes de bairro tinham que ter um ensinamento do atendimento ao trauma daqueles pacientes ou do atendimento a emergência”, pontua.
O médico também defende o ensino de primeiros-socorros nas escolas das redes públicas estadual e municipal. “Por exemplo, uma pessoa que cai, quebra o pescoço ou uma vertebra do pescoço, se você mexer errado pode fazer um prejuízo muito grande, até o óbito. Então, os primeiros-socorros todo mundo tem que saber, independente se é da área de saúde”, explica.
“Hoje, por exemplo, se você bater a cabeça, só tem o João Lúcio que atende a parte neurológica. Então, falta ainda a consciência, não é da população, eu acho que quem coordena a saúde. Então unir com a parte de jornalismo e fazer uma ação coletiva, e procurar a Seduc, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) para tentar ensinar a fazer os primeiros-socorros”, diz.
Na verdade, a população nunca sabe de nada se tratando do nosso governo. Infelizmente.