Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – A Polícia Federal prendeu, em flagrante, na noite de terça-feira, 10, Márcia da Cruz Gordinho, Rodolfo Vieira Pinto, Maria dos Prazeres dos Santos e Victor Ramos de Carvalho por suspeita de compra de votos a favor do candidato a prefeito Ricardo Nicolau (PSD). Conforme documentos que tramitam na 37ª Zona Eleitoral de Manaus, a prisão ocorreu no Edifício Atrium, no bairro São Francisco, zona centro-sul de Manaus.
De acordo com auto de prisão em flagrante, anexado ao Inquérito n° 0146/2020-4-SR/PF/AM, a prisão das quatro pessoas ocorreu por volta de 20h, após policiais federais constatarem a entrega de envelope com R$ 80 a eleitores que participavam de uma reunião supostamente “conduzida por pessoas contratadas para promover a campanha do candidato a prefeito de Manaus Ricardo Nicolau”.
O delegado federal Fábio Sandro Pessoa Pegado, que conduziu a ação, afirmou que, após receber denúncia de que correligionários do candidato Ricardo Nicolau estariam supostamente praticando compra de votos no Edifício Atrium, a equipe policial foi até o local e abordou algumas pessoas que passavam pela recepção do edifício.
Pegado afirmou que os policiais confirmaram que havia a distribuição de lanche e envelopes contendo R$ 80,00 em cada um. Segundo o delegado, todos os participantes confirmaram que receberam o dinheiro no envelope.
“Ao serem questionados o motivo de estarem ali e se tinham recebido algum dinheiro, responderam de forma unânime que estavam participando de uma reunião/pesquisa, no 3° andar, sala 308, tendo recebido um lanche (ao chegarem em uma determinada dependência do citado edifício) e um envelope contendo o valor de R$ 80,00 (oitenta reais) em espécie, ao término da reunião”, afirmou Fábio Pegado.
Ainda de acordo com o delegado, ao subir para o terceiro andar e entrar na sala 308 do edifício, os policiais encontraram Márcia Gordinho, Rodolfo Pinto, Maria dos Santos e Victor de Carvalho. Eles informaram que estavam trabalhando realizando uma pesquisa eleitoral e confirmaram que haviam entregue lanches e um envelope com dinheiro de “agradecimento” para as pessoas que participaram da reunião.
De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Márcia da Cruz Gordinho recebeu R$ 25 mil da campanha de Ricardo Nicolau referente a “pesquisa quantitativa”. Conforme a Receita Federal, Gordinho é dona da empresa Cepam (Centro de Estudo e Pesquisa da Amazônia), localizada exatamente no endereço onde Polícia Federal realizou a ação.
No depoimento à Polícia Federal, a empresária afirmou que a Cepam existe há 20 anos e há cerca de um mês foi contratada pela empresa de Rodolfo Pinto para “fornecer infraestrutura e recrutamento das pessoas selecionadas para participação da pesquisa qualitativa”. Segundo ela, o recrutamento é realizado por uma outra empresa chamada MR Pesquisa.
Também consta no site da Justiça Eleitoral que a empresa Ideias, Fatos e Texto Ltda, de propriedade de Rodolfo Pinto, recebeu R$ 400 mil da campanha de Nicolau. A atividade da empresa na campanha do candidato do PSD nas eleições deste ano está descrita como “diversas a especificar”.
Reuniões
Victor Carvalho, que se apresentou como marqueteiro, disse à Polícia Federal que faz pesquisa qualitativa, “levantando percentuais de intensão de votos qualitativamente, buscando, por exemplo, perceber o porquê das intenções dos votos”. Ele afirmou que presta serviços para a empresa de Rodolfo como consultor pelo valor de R$ 50 mil.
De acordo com Carvalho, na pesquisa, os participantes são selecionados de forma aleatória e pessoal por recrutadores contratados. Segundo ele, os encontros ocorrem de segunda-feira a sábado, no horário da noite, iniciando por volta das 19h e terminando por volta das 20h, após o horário de propaganda eleitoral na televisão, e cada reunião gera um relatório.
Carvalho também disse que as reuniões começaram a ser feitas no dia 9 de outubro na sala da empresa de Márcia Gordinho, no Edifício Atrium.
O empresário Rodolfo Pinto, que diz em depoimento que “foi para ajudar o candidato Ricardo Nicolau a ter sucesso em sua eleição”, informa que para a reunião são convidados 9 pessoas, mas somente 8 participam.
“Uma a mais é convidada para substituir um eventual faltoso. (Rodolfo Pinto disse) que na abordagem a pessoa escolhida é informada que haverá uma recompensa pecuniária pela participação na pesquisa, cujo valor é informado no momento do recrutamento”, diz trecho do depoimento de Rodolfo.
Maria dos Santos disse à Polícia Federal que é prima de Márcia Gordinho, que a convidou para participar de atividade que vinha realizando com Rodolfo Pinto, e que só conheceu o empresário no dia anterior. Santos afirmou que a participação dela no evento foi “preparar e servir lanches às pessoas que compareceram na reunião.
Para ser liberado, Rodolfo Pinto pagou fiança de R$ 15 mil; Márcia Gordinho, R$ 5 mil; Victor Carvalho, R$ 10 mil; e Maria dos Santos, R$ 2 mil.
Na manhã desta quinta-feira, 12, a Coligação Pra Voltar a Acreditar afirmou que Ricardo Nicolau não recebeu nenhuma visita da Polícia Federal.
“A última vez em que o candidato compareceu à Polícia Federal foi justamente para denunciar as Fake News e ataques baixos dos adversários desesperados com o crescimento de Ricardo Nicolau nas pesquisas”, informou a coligação.
A coligação também repudiou a “criminalização do trabalho de um instituto de pesquisa”. “Como é prática mundial, nas pesquisas qualitativas não há indução e muito menos pedido de votos”, diz trecho de nota enviada para os jornalistas.
“Qualquer informação diferente disso trata-se de uma notícia mentirosa, uma ‘fake news’ fabricada às vésperas da eleição para tentar influenciar o eleitor contra o candidato que mais cresce nas pesquisas e ameaça o grupo que está há mais de três décadas no poder na prefeitura de Manaus e no governo do Amazonas”, afirmou a coligação.
A aliança liderada por Ricardo Nicolau afirmou que “rechaça e repudia a confusão de que foi vítima e informa que está atuando junto à Justiça Eleitoral e à Polícia Federal a fim de restabelecer a verdade e evitar que essa ação anônima siga tentando macular a credibilidade e idoneidade de nossa campanha”.