Por Fabricio Lobel e Guilherme Seto, da Folhapress
SÃO PAULO – Antes que a Mancha Verde entrasse na avenida, no sábado, 2, seu presidente, Paulo Serdan, disse que ninguém tiraria o título da escola desta vez. E ele estava certo. Com posições cada vez melhores nos últimos anos, a Mancha conseguiu seu primeiro título do Carnaval em 2019.
A melhora de desempenho da Mancha Verde a cada ano se explica, em grande parte, pela ajuda financeira que passou a receber da Crefisa, patrocinadora do Palmeiras. A escola é uma extensão da torcida organizada do clube.
O dinheiro doado para a organizada faz parte da estratégia da dona da Crefisa, Leila Pereira, de conseguir apoio na política do Palmeiras. Para o desfile de 2019, doou R$ 3,5 milhões para que a Mancha fizesse seu desfile. Desde 2016, quando começou a passar dinheiro para a organizada, já deu mais de R$ 6 milhões.
Na avenida, a escola usou o enredo “Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra” para contar a história da princesa africana Aqualtune, e, por meio dela, discutir escravidão, intolerância religiosa e direitos humanos. Para este ano, a Mancha contratou o renomado carnavalesco Jorge Freitas.
A escola apostou em fantasias com texturas que supostamente remetiam à tradição africana, com cores arenosas e terrosas e padrões de pele de onça e de tigre. Máscaras africanas despontaram de todos os lugares. A riqueza de detalhes foi um ponto forte.
A religiosidade também teve papel de destaque no desfile, com Iemanjá como principal atração em um dos carros e Nossa Senhora do Rosário em outro.
Vai-Vai é rebaixada
A Vai-Vai, maior campeã do Carnaval paulistano, com 15 títulos, foi rebaixada pela primeira vez em sua longa história, iniciada em 1930, como bloco de cordão.
A escola amarga o primeiro rebaixamento com “O Quilombo do Futuro”, enredo em que dizia que o futuro pertence aos povos filhos de África.
O baixo desempenho no último ano, com uma homenagem a Gilberto Gil, foi especialmente decepcionante para a escola, que terminou na décima colocação.
A escola teve dificuldades com alguns carros alegóricos e chegou a parar em alguns momentos. Mas o ótimo samba, o ritmo intenso da bateria e o enredo garantiram um dos melhores retornos do público neste ano, com muita cantoria e agitação de bandeirinhas.
A herança dos povos africanos foi exaltada em todo o primeiro setor da escola. Um segundo setor aberto por um carro alegórico lembrava a diáspora negra e a travessia do Atlântico. No fundo desse carro, uma escultura de Iemanjá acalentava uma criança negra.
Nessa fase do desfile, foi lembrada a luta negra por direitos civis. Uma ala formou um mosaico com uma foto da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018.
Um terceiro setor indicava que o futuro do mundo e da humanidade depende da sabedoria negra: o futuro é negro.
A última ala da escola tinha uma das fantasias mais simples e emblemáticas do desfile e representava universitários negros, de beca e diploma na mão.