O movimento “Manaus+verde”, nascido do anseio legítimo sociedade manauara por uma cidade ambientalmente melhor, pretende difundir os valores da qualidade de vida, da sustentabilidade e da vida digna, opondo-se às práticas da “Manaus cinzenta”.
Ao longo das últimas décadas, foi-se configurando socioeconômica e ambientalmente a atual Manaus. Uma cidade cinzenta, em meio à fumaça, repleta de dramas urbanos, tais como: explosão populacional e falta de gestão do fluxo de pessoas, queimadas nas áreas periféricas e da região metropolitana, invasões mercenárias ou eleitoreiras de terra, expansão da ocupação desordenada, trânsito difícil, problemas de mobilidade, violência e criminalidade, aumento do desemprego, precariedade de serviços públicos de saúde e de transporte público, déficit de creches, escolas e hospitais, aumento dos incêndios… Uma realidade de cinzas agravada pela poluição e elevada sensação térmica causada pelo cada vez mais demorado mormaço e ininterrupto fumacê das últimas semanas. Não é à toa que o povo anda cantando uma certa parlenda inédita pelas ruas da capital:
“O manauara é um povo de raça.
Dorme no calor.
Acorda na fumaça.”
É contra essa “Manaus cinzenta” que se coloca o movimento “Manaus+verde”, buscando reaver o direito básico ao meio ambiente saudável, ao ar respirável e ao céu claro, livre das sombrias nuvens de vapor que esfumaçam a cidade, asfixiam e adoecem seus habitantes. As cinzas do desequilíbrio não podem prevalecer sobre a saúde humana e a qualidade de vida. “Manaus+verde” é uma maneira das pessoas se expressarem em favor do basta a todo esse estado de coisas.
São dias em que o calor e o mormaço superam médias históricas. Rios secam com rapidez preocupante. Incêndios tornam-se mais frequentes. A poeira e a fumaça encobre a cidade. As vendas do PIM (pólo industrial de Manaus) encolhem, a produção retrai, o desemprego aumenta, a arrecadação despenca e a crise vai se instalando de modo crônico, seja no setor privado seja no público. Um “mix” de crise ambiental com crise socioeconômica e esgotamento do modelo ZFM (Zona Franca de Manaus), o qual impacta o Amazonas em geral, pois é de conhecimento de todos que a capital amazonense é uma cidade-estado. O modelo do qual somos econômica, social e viciadamente dependentes concentra-se praticamente em Manaus.
“Manaus+verde” pleiteia, busca e trabalha por uma Manaus mais arborizada, limpa, saudável, mais justa, próspera e solidária, capaz de suplantar as cinzas de uma cidade sem rumo, ingerenciável, poluída, quente, insegura e sofrida, mas que pode reinventar sua sorte se todos se derem às mãos para a causa maior: a superação das práticas e das mórbidas conseqüências da “Manaus cinzenta” pelo frescor saudável e mais justo de uma “Manaus+verde”. Passa da hora de plantar uma nova cidade. Sermos também uma nova semente. E definir a Manaus que pretendemos colher.
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