
Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – “Manauara é um cara que nasce no Norte e reza para o Açaí”, diz o policial militar Peçanha ao parceiro Mesquita, referindo-se a um cadáver encontrado na rua, na sequência inicial de “Peçanha Contra o Animal”, novo filme do Porta dos Fundos em cartaz na Amazon Prime. Famoso nas esquetes do canal de humoristas, o PM racista e homofóbico ganhou filme próprio.
Em entrevista ao ATUAL, o humorista e roteirista Antônio Tabet, criador de Peçanha, explica que o “manauara” foi escolhido porque ele próprio é “louco por açaí” e tem um melhor amigo de Belém, a capital do Pará, que reclama da falta de conhecimento dos sudestinos, que confundem as duas cidades.
Na produção cinematográfica, Peçanha e Mesquita (interpretado por Pedro Benevides) investigam assassinatos cometidos por um serial killer conhecido como “Animal”, que matou mais de 30 pessoas em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
Nos primeiros minutos do filme, Peçanha e Mesquita encontram um corpo com uma faca cravada no estômago. Peçanha diz que é um “manauara”. No diálogo, Mesquita diz não desconhecer o termo. “Ô chefe, desculpa perguntar isso pra você, mas manauara é o que? É religião?”, indaga. “Positivo. É o cara que nasce no Norte e reza para o açaí”, responde Peçanha.
Tabet diz que a referência aos manauaras no diálogo é uma crítica ao próprio Peçanha. “Não há crítica alguma aos manauaras ou Manaus. A crítica é, de novo, à ignorância do Peçanha que não tem ideia do que se trata”, disse.
Peçanha é conhecido, também, por fazer comentários homofóbicos, machistas e racistas, mas Tabet nega que a referência aos manauaras tenha relação com os comportamentos ofensivos do personagem.
“Não é verdade que o Peçanha necessariamente ofenda minorias. Ele, muitas vezes, não as entende ou até respeita mesmo. Sobre os manauaras, não tem nada a ver com esse comportamento da personagem. Ele só ignora o que seja o termo, confundindo geografia com religião. Assim como confunde outros tópicos em todo o filme, como álgebra e gramática e por aí vai”, disse o humorista.
Tabet afirma gostar da repercussão que há anos o personagem está trazendo e que nunca foi confundido com ele. “Não tenho nenhum receio de ser confundido com a personagem. Faço ele há anos e nunca aconteceu. A repercussão é muito positiva.”
Peçanha
Em entrevista coletiva, antes da estreia do filme, Tabet falou novamente sobre o personagem, deixando claro que os comentários muitas vezes ofensivos feitos por Peçanha são uma crítica a ele próprio.
“Só o fato do Peçanha existir já é uma crítica. Quando você vê um personagem como ele falando esses absurdos em um filme, você vê o quanto é ridículo. Queria que fosse uma coisa bem besteirol mesmo, mas que as pessoas entendessem que ali existe uma crítica, uma sátira e irreverência em relação a isso tudo que a gente vem vivendo no Brasil”, disse.
Besteirol
Ainda em entrevista coletiva, Tabet disse que a intenção do filme é ser um conteúdo besteirol, despretensioso e para fazer rir. “Acredito que seja o primeiro filme de besteirol do Porta. Quando eu escrevi esse especial a ideia era fazer as pessoas rirem e a gente se divertir fazendo. É um besteirol para assistir despretensiosamente em casa e acho que ele cumpre essa função de ser divertido e leve”, disse.
A trama tem um pouco mais de uma hora e participação de outros personagens famosos do Porta, com a presença de Rafael Portugal, Valesca Popozuda e Sérgio Loroza.
Sinopse
“O terrível serial killer Animal aterroriza Nova Iguaçu e apenas a elite da polícia carioca é capaz de capturá-lo. Na falta deles, quem assume a investigação é o policial Peçanha mesmo”, informa a sinopse do filme.