Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – Cleusimar Cardoso Rodrigues e Ademar Farias Cardoso Neto, mãe e irmão da ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso, que morreu em maio deste ano, rejeitaram ser entrevistados por Roberto Cabrini dentro do presídio. Eles disseram que só darão entrevista quando estiverem em liberdade.
Mãe e filho tomaram conhecimento de que o jornalista pretendia entrevistá-los dentro do presídio e comunicaram a decisão à direção do presídio em que estão custodiados desde maio deste ano em Manaus. Na terça-feira (10), a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) informou à Justiça que não pode obrigá-los a conceder a entrevista.
“Não cabe ao Estado, representado pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Amazonas, se posicionar quanto à realização ou não da entrevista (salvo questões de segurança da unidade), mas sim, garantir que o interesse e a vontade do apenado ou reeducando sejam respeitados”, diz trecho do ofício assinado pelo secretário Paulo César de Oliveira.
Cleusimar e Ademar foram detidos no dia 30 de maio deste ano por suspeita de integrar uma seita que induzia o uso indiscriminado de ketamina (ou cetamina), um forte analgésico usado em cavalos, para deixar pessoas em transe. A polícia suspeita que o uso abusivo da substancia tenha causado a morte de Djidja.
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No fim de agosto, o jornalista Roberto Cabrini, da emissora de televisão RecordTV, pediu à Justiça para entrevistar Cleusimar e Ademar. Na ocasião, ele afirmou que a conversa seria gravada dentro do presídio. “A entrevista será feita numa das salas do presídio que os réus estão recolhidos, com total respeito e observância do contraditório”, diz trecho do pedido.
O jornalista também comunicou que havia conversado com a defesa dos presos sobre a entrevista. “Antes de solicitar esta autorização judicial, foi conversado com o advogado dos réus, que não se opôs ao presente pedido”, disse Cabrini.
O pedido de Cabrini foi aceito pelo juiz Celso Souza de Paula no dia 29 de agosto. O magistrado considerou que o caso tem tido grande repercussão e disse que não se pode negar aos réus o “direito ao completo exercício do contraditório e à ampla defesa”.
“O objetivo de permitir a realização de entrevistas jornalísticas é, precisamente, utilizar esses meios para dar transparência ao caso e informar a população dos perigos causados pelas substâncias entorpecentes”, disse Celso de Paula.
No dia 30 de agosto, segundo registro da Seap, Cleusimar comunicou a direção do presídio que só daria entrevista quando estivesse em liberdade.
“Durante o parlatório com minha advogada fui orientada por ela para que eu fizesse uma carta de autorização para dar entrevista para o Roberto Cabrini, da TV Record, mas eu informei que somente quero ser entrevistada pelo repórter quando receber minha liberdade por parte da Justiça”, disse Cleusimar, conforme registros da Seap.
No dia 2 de setembro, Cleusimar voltou a afirmar que só daria a entrevista a Cabrini quando estivesse solta. “Informo que aceito a entrevista somente quando receber minha liberdade por parte da Justiça, visto que fora da unidade terei mais informações para passar para a reportagem e que é de interesse público”, disse a mãe de Djidja.
Também no dia 2 de setembro, Ademar fez declaração semelhante à da mãe. “Não, não quero dar entrevista dentro desta unidade de CDPM1. Como antes havia declarado, vou conceder somente quando me encontrar em liberdade”, disse Ademar.
Na segunda-feira (9), o juiz Celso Souza de Paula manteve a prisão preventiva de Ademar Farias Cardoso Neto e Cleusimar de Jesus Cardoso. A decisão também valeu para Hatus Moraes Silveira, José Máximo Silva de Oliveira e Sávio Soares Pereira, implicados na investigação.
O juiz concedeu liberdade provisória apenas a Verônica da Costa Seixas, gerente do Salão Belle Femme, mediante a aplicação das medidas cautelares, entre elas o comparecimento mensal em juízo para informar e justificar as atividades.
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