Por Renato Machado, da Folhapress
BRASÍLIA – O presidente Lula (PT) abriu na manhã desta quinta-feira (7), em Brasília, as celebrações do primeiro Dia da Independência de seu terceiro mandato, passou a tropa em revista e na sequência seguiu de carro até a tribuna de honra.
Ele está acompanhado na tribuna de honra dos chefes de outros Poderes: a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber, e o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Também estão presentes o vice Geraldo Alckmin e muitos ministros de Estado do atual governo. Entre eles Márcio França (PSB), um dos atingidos pela reforma ministerial concluída na noite anterior. Ele deixa a pasta de Portos e Aeroportos, cedida para o ‘Centrão’, para chefiar o novo ministério das Micro e Pequenas Empresas.
O desfile foi aguardado com expectativa, sendo uma das apostas do governo para transmitir a imagem de pacificação e união do país, após os ataques golpistas de 8 de janeiro e o clima de desconfiança com as Forças Armadas.
A gestão Lula também busca ressignificar a data histórica, após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tê-la usado ao longo de seu mandato como um sinal de força e proximidade com as Forças Armadas, além de aproveitar a grande concentração de apoiadores para discursos com teses golpistas.
Como a Folha de S.Paulo antecipou, o slogan da cerimônia é “democracia, soberania e união”. O governo do petista também investe para recuperar o verde e amarelo como símbolo nacional de todo o país, após ser longamente usado e associado com os bolsonaristas.
Em seu discurso em cadeia de rádio e televisão, na noite anterior ao 7 de Setembro, Lula disse que em oito meses seu governo recolocou o Brasil no rumo da democracia. E também fez uma sinalização para tentar romper a polarização política.
“Por isso, amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo, e sim de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos”, afirmou o presidente.
“Que podemos ter sotaques diferentes, torcer para times diferentes, seguir religiões diferentes, ter preferência por este ou por aquele candidato, mas que somos uma mesma grande nação, um único e extraordinário povo”, completou.
Outro objetivo dos organizadores é associar o conceito de democracia com as Forças Armadas, que se viram alvo de críticas, suspeitas e investigações após a invasão do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.
Além dos desfiles, os militares realizam uma exposição no gramado central da Esplanada dos Ministérios, que seguirá até o domingo (10), com veículos militares de combate e com a exibição de ações das três Forças. As três forças também pretendem exibir as suas ações em outras frentes, como na preservação da Amazônia e no auxílio a outras comunidades, como os indígenas.
Essas ações são também mostradas nos desfiles, que nesse ano serão divididas em quatro eixos diferentes de atuação dos militares. O primeiro deles será “paz e soberania”, com a participação de militares que participam de operações de paz no exterior e associações ligadas à memória da Força Expedicionária Brasileira, que atuou na 2ª Guerra Mundial.
O segundo eixo, “ciência e tecnologia”, terá militares da área de engenharia das três forças, ligadas a instituições como o IME, ITA e engenheiros militares da Marinha.
Os outros dois eixos serão usados para exaltar o trabalho nas campanhas de vacinação e também na defesa da Amazônia. Nesse último, participarão soldados de origem indígena, que servem em São Gabriel da Cachoeira (AM). No total, 2 mil militares participarão do desfile em Brasília.
Ao final, ainda está prevista a tradicional “pirâmide humana” dos militares do Exército e uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça.
Lula tem dito que o 7 de Setembro teria um objetivo de incluir toda a sociedade nas celebrações, que se tornaram nos últimos anos algo exclusivo das Forças Armadas.
O chefe do Executivo disse, na terça-feira (5), que os militares se apoderaram das festividades do Dia da Independência no Brasil, ao longo da história, em particular após as duas décadas da ditadura militar no país (1964-1985).
“Todo o país do mundo tem na festa da independência uma grande festa. O que aconteceu no Brasil é que, como nós tivemos por 23 anos [21, na verdade] um regime autoritário, a verdade é que os militares se apoderaram do 7 de Setembro. Deixou de ser uma coisa da sociedade como um todo”, afirmou o presidente.
“O que nós estamos querendo fazer agora, com a participação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é voltar a fazer um 7 de Setembro de todos. O 7 de Setembro é do militar, do professor, do médico, do dentista, do advogado, do vendedor de cachorro-quente, do pequeno e médio empreendedor individual”, completou.
Autoridades civis do governo Lula minimizaram a possibilidade de ações antidemocráticas durante o desfile de 7 de Setembro. No entanto, manifestavam preocupação nos bastidores, dada a invasão da sede dos Três Poderes meses antes.
A Polícia Militar do Distrito Federal não divulgou o efetivo que vai participar da segurança do evento, mas garantiu que será maior que o 7 de Setembro do ano passado e que a posse de Lula, em 1º de janeiro. O ministro Flávio Dino (Justiça) também autorizou o emprego da Força Nacional.
Além disso, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) informou que iria atuar às vésperas e durante os eventos do 7 de Setembro deste ano para identificar eventuais ameaças que possam colocar em risco autoridades presentes no desfile e demais participantes.
Para isso, a agência vai acionar uma central de monitoramento para reunir informações e também repassá-las para outros órgãos de segurança.
Poucas horas após a cerimônia, no início da tarde, Lula embarca para a Índia, para participar da reunião de cúpula do G20.