MANAUS – Apontado pelo ex-presidente da Construtora Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, como suposto recebedor de propina da Eletronorte (Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A), Adhemar Palocci, diretor de Planejamento e Engenharia da subsidiária da Eletrobras na Região Norte, é apontado como um dos principais operadores financeiros da Operação Lava Jato, da PF (Polícia Federal). Adhemar é irmão do ex-ministro Antônio Palocci.
Apesar de não ser mais responsável pela distribuição de energia elétrica no Amazonas, a Eletronorte continua no estado amazonense atuando na geração e transmissão de energia a 1,6 milhão de pessoas que vivem em Manaus, segundo o site oficial da instituição. As irregularidades contra a empresa surgiram no rastro da operação Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção na Petrobras.
No depoimento, do dia 14 de março, Dalton Avancini , que está preso em regime domiciliar pela Operação Lava Jato, confessou pagamento de propina de R$ 20 milhões da empreiteira nas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O valor teria como destino o PMDB e agentes públicos da estatal. Nos bastidores, Adhemar é considerado um dos homens de confiança dos peemedebistas. As investigações da Polícia Federal apontam que o PMDB pegava 1% de propina das obras da Eletrobras Eletronorte.
‘Paloccinho’, como é conhecido, “teria algum envolvimento com o recebimento das propinas”, contou Avancini, num dos termos de sua delação premiada que estava em sigilo, anexado aos autos da Lava Jato, em Curitiba.
O empresário apontou o nome de outro executivo da Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, como a pessoa “que poderia fornecer mais detalhes acerca da participação dessa pessoa” e do operador de propina do PMDB. O ex-presidente contou não ter “conhecimento acerca do envolvimento de Antonio Palocci Filho”. O ex-ministro é alvo de um inquérito da Lava Jato, pelo suposto pedido e recebimento de R$ 2 milhões em propina, em 2010.
O delator explicou que Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez entraram no projeto de Belo Monte como construtora e não como titulares da concessão. “Iniciou-se então a negociação para o ingressos dessas três empresas.” Elas teriam que atuar em conjunto com o grupo formado para vencer o leilão de concessão de Belo Monte, que tinha entre elas a OAS e a Queiroz Galvão.
“Esse processo liderado pela Andrade Gutierrez, a qual foi alçada a essa condição pelo próprio governo”, contou o ex-presidente da Camargo Corrêa. Ao todo, eram 10 empresas participantes dessa sociedade para execução das obras, segundo ele.
“Quando do ingresso da Camargo, Odebrecht e Andrade Gutierrez nesse consórcio construtivo, segundo informado por Luiz Camargo Martins, então diretor da área de Energia da Camargo, houve um compromisso de que haveria uma contribuição na ordem de 1% do valor do empreendimento para o PMDB.”
A contribuição seria feita pelas empreiteiras de maneira proporcional à participação de cada uma na obra. “A Camargo detinha cerca de 15% da participação na obra, o que resultaria em uma ‘contribuição’ na ordem de R$ 20 milhões, que deveria ser pago ao longo do empreendimento”. “Os fatos acerca do empreendimento lhe foram relatados por Luiz Carlos Martins, diretor de Energia e por Marcelo Sturlini Bisordi, vice-presidente”.
Outro lado
No dia 31 de julho, Adhemar Palocci pediu licenciamento do cargo. O licenciamento perdura enquanto durarem as investigações da operação da PF. À Agência de Notícias Reuters, Adhemar Palocci negou, no dia 1º deste mês, as denúncias de corrupção.
Ele afirmou que é um dos maiores interessados no esclarecimento das denúncias e no sucesso das investigações internas, conduzidas pelo escritório de advocacia internacional Hogan Lovells. A expectativa é que o Hogan Lovells conclua a investigação interna na Eletrobras em outubro. “Queremos deixar a investigação interna transcorrer tranquilamente”, afirmou Adhemar.
A Eletronorte
A Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletronorte, sociedade anônima de economia mista e subsidiária da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobras, é uma concessionária de serviço público de energia elétrica. Criada em 20 de junho de 1973, com sede no Distrito Federal, gera e fornece energia elétrica aos nove estados da Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Por meio do Sistema Interligado Nacional – SIN, também fornece energia a compradores das demais regiões do País.