
MANAUS – O melhor conceito de liberdade, numa perspectiva cristã, é do teólogo José Comblin (Cristão Ruma ao Século XXI – 1996): “A liberdade é um fato social. Não existe liberdade na solidão. A liberdade é sempre tal em relação a outros”.
Comblin faz uma reflexão das mudanças de comportamento da humanidade desde a cristandade até o advento do capitalismo para demonstrar como o homem e a mulher conseguiram sair de uma situação de submissão à família, à pátria e à igreja para viver seu individualismo, o que culminou com os movimentos libertários.
No momento atual, o que se observa na sociedade é uma tentativa retorno à repressão ao individualismo, com um discurso carregado de ódio e ancorado no que a religião produziu de mais perverso: o aprisionamento do indivíduo. Pior: o discurso de defesa desse “movimento” tem usado como justificativa a liberdade.
“Queremos a liberdade”, gritam os defensores de um retorno da humanidade aos tempos sombrios.
Nada há de libertário na repressão ao pensamento livre, na negação da dignidade às minorias, na condenação das manifestações culturais que destoam do pensamento conservador.
Nada há de liberdade na indiferença às populações vulneráveis das periferias das cidades; no louvor ao uso da força letal contra pobres e negros ou na falta de empatia com os que mais sofrem.
A liberdade não tem sentido se não puxar cada vez mais pessoas para o seu espiral. Liberdade individual não é liberdade, pois, como ensina Comblin, ela não existe na solidão.
Não existe o eu livre, mas homens e mulheres livres. E os que lutam pela liberdade jamais podem descansar enquanto houve um homem ou uma mulher sem liberdade.
Mas o que significa estar livre ou conquistar a liberdade? Em poucas palavras, ser livre é conquistar a própria humanidade. Mas no que consiste ser humano? Parte da resposta é ter uma vida digna. Mas isso não é suficiente.
Comblin volta à questão inicial para dizer que “A liberdade consiste em abrir o diálogo com as ‘outras’ pessoas, ainda não incluídas na convivência social”.
E o teólogo continua: “Ao iniciar a convivência com ‘outros’, o homem ou a mulher torna-se criador ou criadora de liberdade”. Ou seja, concretizam a ideia de liberdade como construção social.
Portanto, não é separando a humanidade em bons e maus, direita e esquerda, em conservadores e não conservadores que os homens e as mulheres vão tornar o mundo melhor.
Quando um desses lados se sente mais forte que o outro, geralmente é tentado a querer eliminar aquele que passa a ser considerado como inimigo.
A tendência atual de separar não é cristã, como muitos pensam, mas ao contrário, é obra de satanás. E aqui, satanás não tem a ver com a figura do inimigo de Deus criada pela religiões judaico-cristãs, mas remete a uma definição kantiana que encara o diabo como a personificação do ensinamento de que não há salvação para os homens a não ser na aceitação dos princípios morais.
O problema é quando esses princípios morais são “os meus princípios morais” e não os princípios aceitos na sociedade. Essas pessoas querem a liberdade aprisionada aos velhos e superados conceitos.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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