Igor Araújo Lopes (*)
Há 100 anos, o mundo foi sacudido por uma explosão política de grande impacto nas relações diplomáticas, políticas e ideológicas deste período, a Revolução Russa. Na busca de estabelecer alguns pontos em comum dentro das várias mudanças de cenário político pelo mundo, especialmente nas últimas décadas, pode-se colocar, por um lado, o cansaço popular e o desejo de mudança como sintomas constantes e fundamentais. Por outro lado, a própria desarticulação e melancolia política se fazem como marcas registradas de nosso tempo. Tanto um lado como outro respondem à política econômica estabelecida em alguns pontos, ou a ideologia dominante de forma global, isto é, o neoliberalismo.
Para fim de melhor entendimento: de forma clara segue em curso um tradicional processo de formação ideológica. Os países centrais não adotam, para si, de forma geral, as regras do manual neoliberal. Como exemplo, basta ver que não emerge da realidade a livre concorrência, o dogma central da visão liberal. Há sim, na verdade, um grande protecionismo nestes centros, e políticas que só se fazem com Estados muito fortes. Contudo, há uma exportação teórica para os países periféricos de que estes precisam enxugar seus Estados e dar a famigerada “liberdade” para esse entidade mágica e sagrada de nome mercado – uma versão curiosa do ‘faça o que eu digo mas não faça o que eu faço’.
Os países centrais trabalham na tentativa de equilibrar os interesses dos monopólios ao mesmo tempo que buscam dar sequência e salvaguardas ao andamento do império. Reiteram o “espírito democrático” enquanto bombardeiam de modo autoritário a periferia, as nações menores. Os Yankees sempre se disseram a maior Democracia do mundo enquanto promovem, historicamente, os já tradicionais golpes na América Latina e Oriente Médio, ou seja, o sistema é consumidor e produtor de contradições.
O resultado disso tudo tem sido, entre outras ressonâncias, manifestações populares tidas em várias formas e graus dentro do espectro ideológico, que já foi descrita como geleia geral. Exemplos não faltam, EUA, Itália, França, Romênia, Grécia, Reino Unido e mais alguns – mesmo que guardem suas respectivas singularidades – demonstram uma exclamação em essencial: uma recusa recorrente, um claro não. Uma negação bem evidente e policrômica com relação aos sintomas decadentes do capitalismo financeiro, de globalização e corporativismo exaltados, que culminam na xaropada da austeridade e da imposição de arrochos – isto é, na crise cíclica do capitalismo o manual de instruções da burguesia entra em festa.
E neste festival de recusas frente à elite política e econômica, as diferenças aparecem conforme o grau de consciência de determinada população. Tomemos os EUA, como exemplo, onde a negação se deu ao plano dos Democratas de vinculação com o ‘establishment’. O resultado foi a radicalização mais à direita ainda, com Trump, que mostrou competência – assim como Sanders – de dialogar com trabalhadores e desempregados americanos. Até a próxima….
(*) Igor é acadêmico de Filosofia
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