
Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS — O juiz Charles Fernandes da Cruz, da 2ª Vara da Comarca de Humaitá (distante 600 quilômetros de Manaus), reconheceu a morte de um homem cujo corpo foi encontrado sendo devorado por um jacaré-açu, na comunidade Butina, no lago de Carapanatuba, em janeiro de 2022.
Após ouvir duas testemunhas que relataram a mobilização de moradores nas buscas, a localização do corpo ainda com o animal e os preparativos para o funeral, o magistrado determinou a expedição de mandado ao cartório de registro civil para a lavratura do óbito.
“O informante [Rozildo] confirmou a ocorrência desses fatos, inclusive relatou que o velório ocorreu na casa dele. A senhora Maria também confirmou os acontecimentos e afirmou ter participado das buscas. Os fatos, devidamente comprovados nos autos e na instrução, corroboram o direito da parte ao registro do óbito tardio”, afirmou Charles, ao julgar procedente o pedido.
O processo foi aberto pela companheira da vítima, que solicitou o registro do óbito fora do prazo legal — 24h após o óbito ou 15 dias, em caso de impossibilidade pela distância ou motivo relevante. Ela relatou que o homem havia saído de canoa com motor rabeta e não retornou para casa.
Segundo a mulher, a comunidade se mobilizou para procurá-lo, mas o corpo só foi localizado no segundo dia de buscas. Ela afirmou que os moradores encontraram o cadáver sendo “arrastado por um jacaré-açu, em meio à vegetação aquática”.
Na ação, o advogado da mulher relatou que os comunitários conseguiram recuperar o corpo e o entregaram à família. “Para a tristeza dos amigos e familiares, era o corpo de Júlio Cezar Pereira Garcia. Os que estavam no local ‘brigaram’ com o jacaré para resgatar os restos mortais de Júlio”, diz trecho da ação.
O funeral foi realizado na própria comunidade, onde o homem foi sepultado. “Foi feito o velório seguido do sepultamento na própria comunidade, tendo em vista, que tanto o de cujus e familiares, morarem no local”, diz outro trecho da ação.
Uma das testemunhas ouvidas relatou a mobilização na comunidade. “A equipe que estava na busca encontrou ele três dias depois, boiando, com o jacaré ainda com ele atravessado na boca. O grupo ficou surpreso e com medo da quantidade de jacarés que estavam devorando ele naquele momento. Ele já estava sem os braços”, relatou um morador.
“Foi uma situação gravíssima. Toda a comunidade se mobilizou para encontrar o corpo”, disse o mesmo morador. “Encontraram ele dois dias depois. Primeiro acharam a canoa. Como a família e os moradores estavam engajados, todos suspeitaram que um jacaré tivesse atacado. Com três dias, encontraram o corpo”.
Sobre o jacaré-açu
O jacaré-açu (Melanosuchus Niger) é uma espécie de jacaré exclusiva da América do Sul. Também conhecido como jacaré-negro ou jacaré-preto, é um predador de topo de cadeia alimentar. Exemplares adultos de grandes dimensões podem predar qualquer animal de seu habitat, inclusive outros predadores de topo, como pumas, onças, jiboias e sucuris, se forem surpreendidos por esses répteis. Normalmente, se alimenta de pequenos animais, como tartarugas, peixes, capivaras e veados. (texto de Paulo Almeida Filho, publicado no site da ACA – Associação Comercial do Amazonas)