
Acaba de ser lançado pela Editora da Universidade Federal de Roraima (UFRR) o volume II da Coletânea Interfaces da Mobilidade Humana na Fronteira Amazônica, organizado pelas professoras Márcia Maria de Oliveira e Maria das Graças Santos Dias, com textos que discutem a atual dinâmica das migrações e refúgio na Pan- Amazônia.
A coletânea está vinculada às linhas de pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras – PPGSOF, vinculado ao Centro de Ciências Humanas da UFRR e tem como objetivo divulgar pesquisas relacionadas aos estudos Migratórios na Pan-Amazônia, que atualmente representa uma das regiões com maior mobilidade transfronteiriça na nova modalidade de migração sul/sul.
Dividida em 12 capítulos, a coletânea conta com prefácio da professora doutora Lúcia Marina Puga Ferreira do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas da Universidade do Estado do Amazonas. Na sequencia, as autoras Gilmara Gomes da Silva Sarmento e Francilene dos Santos Rodrigues abrem o debate com um excelente capítulo intitulado ‘entre a emergência e os limites do acolhimento: atores, protagonismos e contradições’. E apresentam uma ampla discussão sobre os dilemas e as contradições que emergiram da confluência das ações emergenciais e humanitárias da sociedade civil, das Agências Internacionais e das Forças Armadas.
O segundo capítulo intitulado ‘aspectos Socioambientais da Migração no estado de Roraima, Brasil’, fazem uma discussão do processo de migração no estado de Roraima desde a sua ocupação no período colonial e colonização, buscando relacioná-los com as transformações socioambientais, na perspectiva dos/as autores/as Maria Soledade Garcia Benedett, Fabrício Barreto , Maria Bárbara de Magalhães Bethonico e Francilene dos Santos Rodrigues.
O/a leitor/a é contemplado com o terceiro capítulo que apresenta uma discussão sobre a “Migração da fome”, uma pesquisa instigante intitulada ‘a Migração da Fome: comida e deslocamento venezuelano na fronteira Brasil/Venezuela, dos/as autores/as Iana dos Santos Vasconcelos e Sandro Martins de Almeida Santos.
No quarto capítulo, ‘interface Migração e Serviços de Saúde Primária na Fronteira Brasil/ Venezuela’, Patrícia Gonçalves Silva de Melo, Teresa Tonini, Michele de Lima Janottí Quaresma e Márcia Maria de Oliveira, apresentam um importante debate sobre Migração e os serviços de saúde primária na Fronteira Brasil/Venezuela.
‘Recepção das representações de trânsito entre gênero no facebook em Roraima’, é o título do quinto capítulo de autoria de Luan Correia Cunha Santos e Francilene Rodrigues. Apresentam uma reflexão sobre os cenários de violências contra os migrantes, sua convergência e atualização nas redes sociais com vistas a descobrir como são agenciadas suas representações neste cenário, tendo como base produções comunicacionais e como contexto social o hétero- estereótipo negativo relacionado a migrantes transsexuais.
O sexto capítulo intitulado ‘notas sobre a crise humanitária, migração em Roraima e atuação do Acnur’, dos/as autores/as Maria das Graças Santos Dias, Andressa Ferreira Felix, George Brendom Pereira dos Santos e Américo de Alves Lyra Júnior, possibilitam um panorama que se propõe discutir no contexto internacional Pós-Guerra Fria, a crise humanitária e a América Latina, a migração em Roraima e a atuação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR.
No sétimo capítulo Eduarda Rabelo Almeida, Francilene dos Santos Rodrigues e Amanda Vitória Oliveira, com o provocativo título ‘de refugiados á Bárbaros: Uma análise das situações de violências envolvendo migrantes venezuelanos em Boa Vista, apresentam os resultados de uma pesquisa sobre situações de violência envolvendo migrantes venezuelanos na cidade de em Boa Vista, capital de Roraima.
No capítulo oitavo intitulado ‘apropriação comunicacional e feminização da Migração: construção de narrativas para novas migrações na fronteira entre Brasil- Venezuela, as autoras Tainá Aragão de Almeida, Vângela Maria Isidoro de Moraes e Francilene dos Santos Rodrigues apresentam um recorte sobre a comunicação comunitária, cidadã, alternativa e contra-hegemônica realizada por migrantes, com ênfase na participação das mulheres.
O nono capítulo do livro intitulado “acolhimento institucionalizado em Manaus: entre avanços e retrocessos, a agência do sujeito migrante’ representa um recorte teórico de uma das maiores autoridades em estudos migratórios na Amazônia, o professor doutor Sidney Antonio da Silva da Universidade Federal do Amazonas. A pesquisa discute o acolhimento a imigrantes em Manaus, capital do estado do Amazonas, desde a chegada dos migrantes haitianos e, atualmente, dos venezuelanos. O autor aponta que a migração voltou a ser tratada como um tema de “Segurança Nacional”, nos moldes do antigo Estatuto do Estrangeiro de 1980, o que representa um grande desafio à nova Lei de Migração (Lei 13445), pautada na “universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos”.
O décimo capítulo apresenta uma profunda experiência etnográfica que aborda lacunas nos estudos sobre crianças no contexto intercultural e migratório. ‘Trabajo e Migración en el Imaginário de los Niños Mayas Yucatecos’ é o título do capítulo assinado por João Paulino da Silva Neto em seu segundo estágio pós-doutoral realizado na Universidade Autônoma do México.
A Coletânea se encerra de forma honrosa ao apresentar duas ‘memórias compartilhadas’ pelos migrantes venezuelanos em situação de deslocamento. A primeira de Marielys Briceno Altuve e a segunda trajetória migratória compartilhada por Oswaldo José Pontes Perez. As memórias apresentam uma reconstrução do passado, mostrando como se deu a vinda para Roraima. As histórias de vida abrem a possibilidade de um resgate descritivo e analítico do contexto político e econômico vivido na Venezuela. São memórias carregadas de emoção. Ao remeter ao passado, os/as autores/as procuraram reconstruir lembranças familiares nas quais passado e presente estão articulados na memória dos migrantes.
Por fim, o segundo volume da coletânea, apresenta textos com abordagem acadêmica, trabalho de campo e experiências cotidianas. São pesquisas relevantes para quem se interessa pelos Estudos Migratórios. A coletânea está disponível para download no formato e-book, oferecido pela Editora da UFRR, totalmente gratuito no link: http://ufrr.br/editora/index.php/editais?download=455.
*Marcia Oliveira é doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, mestre em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios da Amazônia (UFAM); Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR). Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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