Todos fazem uma ideia sobre o que fazer com a floresta do Amazonas, local onde moram mais de quatro milhões de pessoas. Mesmo com a virtual unanimidade que diz que há uma enorme riqueza na região, pouco ou quase nada se faz para usar esta riqueza. Ao longo dos últimos anos, a maior parte da produção gerada na região não esteve vinculada com seus recursos naturais, mas com a indústria. Entretanto, esta atividade tem encolhido, ao invés de crescer, tendo retrocedido cerca de dez anos em valores absolutos de seu faturamento em dólares. A sensação de euforia é algo distante do setor industrial.
Dois outros fatores são relevantes para o cenário da região: tamanho e a taxa de crescimento populacional. Manaus é a capital do maior estado brasileiro e a cidade está praticamente isolada, quase no centro da imensidão do estado que possui 1.570.745,68km2. Como comparação de tamanho, Portugal possui 91.985km2, o que significa que cabem mais do que 17 “Portugais” dentro do Amazonas ou mesmo o Nordeste brasileiro completo.
Quanto à taxa de crescimento populacional, a partir de dados populacionais do IBGE, verifica-se que a população de Manaus cresceu 78,2% entre o censo de 1991 e 2000, saindo de 1.011.501hab para 1.802.014hab, enquanto o Brasil experimentou no mesmo período um crescimento de 29,9%, saltando de 146.825.475hab para 190.755.799hab. É uma taxa 2,61 vezes maior, o que é significativo, ressaltando uma expressiva necessidade de investimento em recursos de infraestrutura, o que não vem acontecendo, nem há perspectiva de mudança em breve.
A infraestrutura do estado do Amazonas é praticamente a mesma de muitos anos atrás. Aliás, com um olhar mais crítico, é possível afirmar, sem medo de errar, que a infraestrutura parou de desenvolver ou retrocedeu no tempo, de acordo com o modal para onde se destine o olhar. A questão colocada hoje é: como mudar este cenário? Algumas pessoas acreditam que este é o melhor dos mundos: não fazer nada e deixar a floresta e a região como uma reserva, guardada para o futuro. Outros pensam que a reserva deve ser explorada sem trégua, o que levaria a destruição da riqueza da região. Os dois caminhos não interessam ao presente dos brasileiros, porque há perdas expressivas.
Chegar ao caminho do meio para o uso dos recursos da região é o grande desafio. Como e por onde encontrar este caminho? Qual a infraestrutura mais apropriada? Algumas pessoas defendem ferrovias a partir de Manaus. Para o Norte talvez até faça sentido, mas não parece fazer sentido em nenhuma outra direção. Assim, parece-me que a ferrovia não pode ser um tema de pauta para um transporte a partir de Manaus. Talvez até seja para transporte com o entorno da cidade, mas não como uma solução de desenvolvimento, pois somente sem conhecer os padrões de distância do estado do Amazonas é que se pode fazer comparações com a Europa. Ferrovias não me parecem solução.
Rodovias e transporte por água é a base do transporte para o futuro do Amazonas. Como fazer isso de maneira sustentável? Este grande embate que tem sido vencido ao longo dos últimos anos onde a conclusão de nada fazer tem tido um vencedor: todos aqueles onde não há interesse no desenvolvimento do estado. Encontrar um caminho que interesse ao Amazonas é o grande desafio.
Nas próximas semanas farei um texto com respeito a cada um dos modais, com o propósito de propor soluções. Por aqui já deixo uma conclusão prévia: um misto de tudo, onde possamos conceber uma floresta viva e uma sociedade desenvolvida.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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