EDITORIAL
MANAUS – O incômodo dos políticos amazonenses com a fala do presidente Jair Bolsonaro, durante live semanal de quinta-feira, 20, foi menos pelo que ele falou sobre a Zona Franca de Manaus e mais pelo que ele disse sobre Alfredo Menezes, que se articula para disputar o Senado nas eleições de 2022.
Primeiro, porque não há na manifestação de Bolsonaro ameaça à Zona Franca de Manaus, como os políticos do Amazonas tentaram demonstrar nesta sexta-feira, 21.
Bolsonaro, na live, falava da Embrapa e lembrou que ela foi criada no governo militar do presidente Emílio Médici. Depois, citou também a Ponte Rio-Niterói e a Zona Franca de Manaus como feitos dos militares. Em seguida, citou os dois senadores do Amazonas que participam da CPI da Covid no Senado – Omar Aziz e Eduardo Braga – com a seguinte frase: “Senador Aziz, você que fala tanto na CPI. Senador Eduardo Braga. Imagine o estado ou Manaus sem a Zona Franca de Manaus”.
Omar Aziz, Eduardo Braga e o deputado federal Marcelo Ramos viram na fala do presidente uma “ameaça velada” à Zona Franca de Manaus.
Só com algum esforço é possível aceitar a narrativa de ameaça ao modelo Zona Franca. Bolsonaro fazia uma bravata para dizer que os militares fizeram aquilo que hoje é a joia da coroa dos amazonenses.
O AMAZONAS ATUAL já teceu críticas ácidas ao governo de Jair Bolsonaro por ações e omissões contra a Zona Franca de Manaus, inclusive em momentos que os senadores e o deputado Marcelo Ramos se mostravam satisfeitos com o governo federal pelo tratamento dispensado ao Amazonas. Neste caso, no entanto, vê exagero na interpretação dada à fala do presidente.
A ameaça maior por trás da fala de Bolsonaro está no horizonte distante de 2022. O presidente da República, ao citar a Zona Franca de Manaus, na live, aproveitou para tecer elogios a Alfredo Menezes, seu principal aliado no Estado do Amazonas, que trabalha para brigar pela cadeira hoje ocupada por Omar Aziz nas eleições do próximo ano.
O medo de que Alfredo Menezes cresça politicamente é maior do que o temor de o governo mexer nos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus.
Eduardo Braga quer disputar o governo do Amazonas em 2022, e costura uma aliança com Omar Aziz e Marcelo Ramos, que devem disputar a reeleição.
A estratégia, então, foi tentar isolar Menezes – ou o que Bolsonaro disse sobre ele – e centrar fogo na fala do presidente, com uma narrativa de que ele ameaça o modelo econômico do Estado.
Qualquer pessoa sensata que assista à live do presidente, perceberá que é exagero dizer que ele ameaçou a Zona Franca de Manaus.