Os últimos incêndios ocorridos em Manaus mostram a situação de pobreza e desigualdade da população, que contrasta com a riqueza gerada pela economia da cidade e do estado.
No último sábado, 20 de janeiro, mais incêndio de grande proporção ocorreu em Manaus, atingindo cerca de 30 casas da comunidade Bairro do Céu, no bairro de Aparecida, divisa com o Centro da cidade, deixando desabrigadas 113 famílias, cerca de 303 pessoas.
As famílias foram acolhidas, de forma solidária, pela própria comunidade, pela Paróquia de Aparecida (Igreja Católica) e pela Prefeitura, que alojou famílias em escola bem distante da área atingida. O que foi divulgado pela voz popular, é que o Governo do Estado não teria disponibilizado escolas estaduais, próximas do terrível sinistro, para abrigar as vítimas do incêndio.
Este incêndio mostra a situação de alta vulnerabilidade social e de risco em que vive parte da população da cidade de Manaus e mostra o descaso da Prefeitura de Manaus e do Governo do Estado em relação à política pública de moradia.
Mas merece o registro de outros incêndios ocorridos nos últimos anos, principalmente na Zona Sul de Manaus. No dia 12 de janeiro de 2024, um incêndio atingiu 11 casas no Beco Airão, na Praça 14, causando grandes prejuízos e apreensão para as famílias afetadas.
Em fevereiro de 2023, no bairro do Japiim, duas casas foram consumidas por um incêndio. No mês de julho de 2022, no bairro de São Jorge, 16 residências foram destruídas pelo fogo. No ano de 2019, o bairro de Educandos foi abalado com um incêndio de grandes proporções, dizimou 600 casas, deixando desabrigadas 567 famílias.
Outro incêndio que marcou a cidade de Manaus ocorreu em novembro de 2012 na Comunidade Arthur Bernardes, no bairro de Jorge Teixeira, em área que alagava em função da enchente do igarapé, acabando com 496 casas e deixando sem nada, 545 famílias. E merece registro o incêndio que ocorreu em abril de 2012, no bairro de Presidente Vargas (Matinha) que destruiu totalmente 70 casas e 100 famílias perderam tudo.
Uma característica comum a todos esses incêndios: ocorreram em áreas precárias, áreas de risco, com a população morando em áreas vulneráveis, lugar dos mais pobres. Mostrando claramente a deficiência da insipiente política habitacional em Manaus, que está muito distante de um planejamento urbano.
A grande contradição de tudo isso é que, apesar da pobreza e da falta de moradia para milhares de famílias, Manaus, segundo anunciado pelo IBGE, é a quinta cidade mais rica do Brasil. Conforme os dados, o PIB (Produto Interno Bruto) de Manaus representa 1,1% do PIB Nacional, conforme dados de 2021, com o PIB bruto de R$ 103,3 bilhões. Ou seja, tem muito dinheiro, tem riqueza, tem recursos, tem uma dinâmica econômica que proporciona disponibilidade de recursos para moradia.
Outros indicadores também mostram situações que preocupam. O IBGE diz que aumentou a pobreza no Amazonas e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) diz que aumentou a concentração de riqueza no Brasil e nos estados, principalmente no período da Covid.
No final do ano passado (2023), foram aprovados os orçamentos municipal e estadual. O Governo do Estado terá R$ 30 bilhões de recursos para as ações estaduais e a Prefeitura de Manaus terá R$ 9 bilhões. Quais são as prioridades do gasto público? Será que moradia será prioridade?
A pobreza precisa ser enfrentada. A moradia é direito social previsto na Constituição Federal de 1988. A moradia garante dignidade para as famílias mais pobres que moram em áreas de risco e são as maiores vítimas dos incêndios que estão ocorrendo em Manaus.
Nossa solidariedade às famílias afetadas pelos incêndios nos últimos dias.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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