Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – A Igreja não possui nenhuma inquietação quanto à vigilância do governo federal sobre o Sínodo da Amazônia, afirma o padre Zenildo Lima, reitor do Seminário São José, em Manaus. Na manhã desta quinta-feira, 19, a Igreja realizou a 47ª Assembleia do Regional 1 da CNBB, último encontro com líderes religiosos e indígenas do Amazonas e de Roraima antes do Sínodo, que será realizado de 6 a 27 de outubro deste ano no Vaticano.
De acordo com Zenildo Lima, o governo apenas cumpre a sua obrigação. “Eu acho que o Estado tem que fazer o seu papel e no exercício daquilo que ele compreende e daquilo que é o seu papel no que diz respeito a, por exemplo, à soberania nacional. Eu acho que o Estado tem todo o direito de acompanhar todos os processos que discutem realidades que fazem parte do próprio território”, declarou.
Para Zenildo Lima, a vigilância do governo Bolsonaro sobre o Sínodo não deve ser tratado como espionagem. “Eu prefiro não usar muito o verbo ‘espionar’, prefiro usar o verbo acompanhar que entendo que é papel do Estado”, disse.
O líder religioso descarta qualquer falta de transparência por parte da Igreja. “Nós não temos segredo no Sínodo, muito pelo contrário. Quanto mais nós pudermos divulgar os dados, as referências que nós temos, melhor vai ser para a Igreja e para a pátria também”, disse.
Conforme o padre, o evento no Vaticano é um encontro da igreja que não pretende atingir a soberania do Brasil. “Longe de nós propor qualquer coisa que venha a ferir a soberania dos estados, das nações”, afirmou.
Entretanto, Zenildo diz que a Amazônia não é apenas assunto do Brasil. “Agora, o que a gente sabe é que a Amazônia é um território que supera os espaços territoriais de um estado nacional. Nove países estão envolvidos na PanAmazônia e não há problema de fazer uma discussão dessa natureza”.
Governo e o Sínodo
Em fevereiro deste ano, o Sínodo da Amazônia foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e os comandos militares classificaram o evento como “agenda de esquerda” e tentam evitar que se transforme em palco de ataques diretos à política ambiental e social do Planalto.
Na época, a Arquidiocese de Manaus não se pronunciou e preferiu emitir nota conjunta com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), se acautelando sobre a mobilização do governo federal para barrar críticas da Igreja Católica à política ambiental e de integração regional do governo Bolsonaro.
Padres Casados
Uma das propostas que será debatida no Sínodo este ano é a possibilidade de padres casados atuarem junto às comunidades ribeirinhas do Amazonas. Zenildo Lima não descarta essa possibilidade. “Existem muitos homens que deixaram o exercício do ministério, padres que abraçaram o sacramento do matrimônio, mas não perderam a possibilidade desse exercício. Não podem mais fazê-lo por uma questão canônica, mas sacramentalmente teriam condições de fazê-los”, disse.
De acordo com Lima, a proposta de considerar a participação dos padres casados veio com muita insistência durante o processo de discussão do que será levado ao evento mês que vem.