Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – A Arquidiocese de Manaus adotou a cautela sobre a mobilização do governo federal para barrar críticas da Igreja Católica à política ambiental e de integração regional do governo Bolsonaro. Os temas serão discutidos no Sínodo da Amazônia, que será realizado em outubro deste ano em Roma.
O alerta, segundo divulgou o jornal ‘O Estado de S. Paulo’, partiu da Abin (Agencia Brasileira de Inteligência) e dos comandos militares que avaliam a pauta como “agenda de esquerda” e tenta evitar que o evento se transforme em palco de ataques diretos à política ambiental e social do Planalto.
A Arquidiocese preferiu não se pronunciar e informou que emitirá uma nota oficial em conjunto com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) com o posicionamento da Igreja. Na capital amazonense, a Regional Norte 1 da CNBB realizará seminário preparatório para o encontro do Vaticano entre os dias 7 e 9 de março deste ano.
De acordo com a Arquidiocese de Manaus, a ideia do Sínodo da Amazônia é “levantar as necessidades do povo da Amazônia para que a Igreja possa melhor assistir a população, especialmente as que estão em regiões muito distantes e de difícil acesso”.
Entre os temas programados para serem debatidos no Sínodo da Amazônia estão a situação dos povos indígenas e quilombolas e mudanças climáticas, consideradas “agendas de esquerda” pelo Planalto.
Neste domingo, 10, o jornal o Estado de São Paulo publicou matéria afirmando que o Palácio do Planalto recorrerá à relação diplomática com a Itália para evitar ataques diretos ao Governo Bolsonaro. Os escritórios da Abin em Manaus, Belém, Boa Vista e Marabá estão sendo mobilizados para acompanhar as reuniões preparatórias. O Pará registra frequentes e violentos conflitos agrários e em Roraima há monitoramento de ONGs nas terras indígenas ianomâmi e na Raposa Serra do Sol.
De acordo com a reportagem, a ação diplomática terá várias frentes. Em uma delas, o governo brasileiro quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil – Antonio Bernardini e d. Giovanni D’Aniello, respectivamente – para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena.
‘Coisa típica de ditadura’
Para o deputado federal José Ricardo (PT), ligado ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário), a atitude do governo federal “é coisa típica de ditadura, coisa de militares que nunca aceitaram a Igreja Católica que é a única igreja que denuncia o que é feito contra os indígenas, denuncia o desmatamento e a exploração ilegal”.
José Ricardo disse que não vê a igreja trabalhando contra o governo e que a preocupação com os temas que serão abordados no Sínodo da Amazônia “é estratégia de governo para mudar o foco da falta de propostas para melhorar a vida das pessoas”.
“Acho estranho o governo federal se preocupar agora com isso, até porque é um encontro que vai discutir a Amazônia a partir da realidade daqui, da pobreza, da desigualdade, dos direitos. E é o que a Igreja sempre fez, não faz nada diferente, faz de forma aberta, e de novo a Abin está sendo usada para ficar monitorando a sociedade civil”, disse o deputado federal.