Por Daniela Amorim, do Estadão Conteúdo
RIO DE JANEIRO – O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcio Pochmann, listou algumas inovações que o órgão estuda para possível implementação nos próximos anos, entre elas a coleta de preços para índices de inflação via notas fiscais eletrônicas e as repercussões da internet no mercado de trabalho, com o advento de influenciadores e jogadores online como novas ocupações entre jovens.
Pochmann diz que o instituto trabalha atualmente em três frentes de acesso a dados, incluindo um diálogo que foi estabelecido com grandes empresas de tecnologia, as chamadas ‘big techs’, tanto dos Estados Unidos quanto da China. O instituto almeja o acesso a informações de usuários coletadas por essas empresas, com o princípio do sigilo estatístico garantido.
“Nós não temos acesso às informações que estão disponibilizadas pela internet. Então esse é um diálogo com as big techs”, disse Pochmann nesta quarta-feira (21), após participar de evento do instituto, no Rio de Janeiro. “Esse é um diálogo em construção ainda a esse respeito”.
Questionado sobre se houve algum aceno por parte das empresas de tecnologia, Pochmann respondeu que “sim, eles estão abertos ao diálogo”.
“Há uma legislação que garante o sigilo estatístico do IBGE, né? E é um convencimento, porque se as empresas tradicionais, digamos assim, atendem ao IBGE, porque nós não podemos ter o mesmo diálogo com as empresas de tecnologia que produzem informações importantes a partir da interação pela internet?”, ponderou o presidente do instituto estatístico.
Ele também relata esforços para que o IBGE passe a ter acesso às informações que decorrem de atividades econômicas exercidas no âmbito de concessões do Estado, como, por exemplo, informações referentes ao número de usuários de modais de transportes, tráfego de caminhões e movimentação de carga em rodovias federais. “São informações já existentes, porém, não se colhe essas informações, não se trabalha com elas estatisticamente”, acrescentou.
Pochmann contou que o trabalho no órgão está mais avançado na organização das atividades para que o IBGE atue na coordenação de um sistema nacional de estatística, criado a partir da integração dos diferentes bancos de dados já existentes. “Os bancos de dados serão mantidos pelos ministérios ou outras instituições, mas o IBGE poderá ser então o curador da integração dessas informações, garantir que, com base na metodologia harmonizada, seja possível usar um ou outro dado de diferentes bancos sem ter problemas do ponto de vista da consistência da informação”, defendeu.
Quanto às inovações previstas para mais longo prazo, especialmente na segunda metade da década, Pochmann lembrou que a gestão está trabalhando para atuar com as novidades que a internet proporciona. As pesquisas futuras miram a realização do Censo Demográfico de 2030, com formas mais modernas de fazer a coleta, com menor custo e mais agilidade; investigações sobre a chamada economia digital e o processo de digitalização da economia; a mensuração da economia de cuidados, sobre o trabalho não remunerado de cuidados de pessoas no Brasil; e os ativos ambientais e a economia do mar.
“São outras áreas pelas quais o IBGE está muito interessado em trabalhar, nesse sentido da coisa mais econômica”, explicou. “E tem atualmente a preocupação em relação aos efeitos que estão ocorrendo em relação a uma parcela da população, especialmente os mais jovens, com a presença da internet, todas as repercussões que estão tendo”.
Pochmann lembra que a taxa de participação de jovens no mercado de trabalho ainda não retornou aos patamares pré-pandemia, e defendeu pesquisas que possam ajudar a explicar o que está ocorrendo, o que incluiria investigar se houve alteração na percepção da juventude sobre o que é trabalho, especialmente diante do advento de influenciadores digitais e do mercado de jogos pela internet.
“Precisamos capturar melhor esse tipo de informação. Isso é uma preocupação dos vários institutos nacionais de estatística, que estão preocupados em entender um pouco essa transformação, de como é que você captura isso e oferece como informações para quem tem que tomar decisões possa fazer isso com maior tranquilidade”, declarou Pochmann.
O presidente do IBGE esclareceu em seguida que ainda não se sabe se seria possível capturar esse tipo de informação dentro da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que apura a evolução do mercado de trabalho no País. Tampouco há previsão de incorporação aos índices de inflação das inovações investigadas em estudos sobre coleta de preços.
“Tem todo um trabalho que nós estamos discutindo, por exemplo, em relação à possibilidade de capturar preços não mais com a coleta tradicional, mas através das notas fiscais eletrônicas. São experiências que estão sendo conduzidas. Não sabemos se será possível, mas isso significará uma mudança importante”, concluiu Pochmann.