EDITORIAL
MANAUS – Nesta semana, o deputado Cabo Maciel (PL) apresentou na Assembleia Legislativa do Amazonas, um projeto de lei para conceder títulos de cidadão do Amazonas a três artistas que doaram oxigênio para Manaus em janeiro deste ano, quando a cidade se tornou a imagem do caos, com a falta do produto para pacientes com Covid-19.
A homenagem em si não deixa de ser uma boa ação, já que reconhece a ação filantrópica de pessoas que à época tiveram empatia pelos amazonenses em estado de desespero. Mas partido de quem partiu a homenagem – um deputado estadual –, a homenagem é, no mínimo, um ato de oportunismo eleitoreiro.
Não houve por parte de qualquer parlamentar do Amazonas iniciativa que se assemelhasse à de inúmeros artistas (não foram apenas os três lembrados por Cabo Maciel) que se preocuparam com a grave situação de Manaus. Os deputados não meteram a mão no bolso para contribuir com um cilindro de oxigênio quando a população mais precisou.
Muitos deles aproveitaram o momento da pandemia para alardear que estavam destinando recursos de emendas parlamentares para ajudar no combate à Covid-19, como se o dinheiro fosse deles. Dinheiro de emenda parlamentar é dinheiro público, e nem deveria ser usado com o propósito de vender a “boa imagem” do político.
Mas em todo o Brasil os políticos eleitos pelo voto popular lançam mão do proselitismo político com dinheiro público, porque sempre estão com a cabeça nas próximas eleições. E usam o dinheiro do contribuinte para fazer propaganda eleitoral antecipada, levando vantagem sobre os futuros candidatos concorrentes, que não gozam do mesmo prestígio dos ocupantes de cargos eletivos.
Era importante questionar os artistas se eles querem mesmo ser homenageados por fazer uma doação para socorrer pessoas em situação de extrema vulnerabilidade.
O ator e humorista Paulo Gustavo, que morreu na última terça-feira, 4, vítima de Covid-19, por exemplo, doou R$ 500 mil para a compra de oxigênio para Manaus e não fez qualquer propaganda sobre a doação, porque quem tem esse tipo de atitude não busca reconhecimento, como fazem os políticos medíocres.
Cabo Maciel e quem aprovar a homenagem vão fazer pensando na visibilidade que esses artistas podem dar às próprias imagens dos parlamentares, que já estão em plena campanha eleitoral para a disputa de 2022.
Neste sentido é que a concessão do título de cidadão do Amazonas aos artistas não passa de oportunismo de alguns parlamentares do Amazonas na tentativa de faturar uns votos pagos pelo erário.