
Por Daniela Amorim, Célia Froufe e Eduardo Laguna, do Estadão Conteúdo
RIO DE JANEIRO – O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, disse nesta segunda-feira (26) que a guerra comercial entre Estados Unidos e China vai favorecer a agricultura brasileira, mas aponta para a um cenário desafiador para a indústria.
“Independente que essa guerra comercial começou de forma errática, improvisada, autoritária, nós vamos assistir um desacoplamento entre a economia da China e dos Estados Unidos. E esse desacoplamento vai beneficiar muito a agricultura brasileira, a agropecuária brasileira, porque nós somos um grande provedor de alimentos do planeta, especialmente nesse período da crise climática”, comentou Mercadante.
Ele participou da cerimônia de abertura do evento Nova Indústria Brasil, em comemoração ao Dia da Indústria, no BNDES, no Rio de Janeiro A conferência é promovida por Brasil 247, TV 247 e Agenda do Poder.
Segundo Mercadante, para a indústria o cenário é “muito mais desafiador” e vai exigir mais defesa comercial e mais parceria entre Estado e indústria.
O presidente do BNDES citou a necessidade de mais recursos para a o processo de reindustrialização do Brasil. Ele comentou ainda que o custo dos extremos climáticos são cada vez mais intensos e recorrentes no mundo, a ponto de que as seguradoras não vão conseguir cobrir os impactos de eventos extremos do clima. “Os Estados têm que se preparar”, ressaltou.
Taxa Selic
Em um novo aceno ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante minimizou as medidas ligadas ao IOF (Imposto sobre Operações Financeir), que geraram reação negativa do setor privado, e criticou o trabalho do Banco Central na coordenação da política monetária.
“Nós temos o impacto do IOF dessa medida recente, mas já tivemos IOF muito mais alto. E o IOF tem uma função de contração monetária, porque aumenta o custo do crédito. Mas a Selic gera dívida. O IOF gera receita. Diminui o problema da relação dívida/PIB na sustentabilidade”, argumentou Mercadante.
Mercadante disse estar entre os que defendem a necessidade de olhar os gastos estruturais e repensar como se aumenta a eficiência do gasto público, protegendo os que mais precisam. “Mas precisamos de uma agenda que não pode ser só do ministro da Fazenda”, comentou, acrescentando que Haddad tem que entregar o arcabouço fiscal. “É responsabilidade do ministro”.
Segundo ele, quem não está satisfeito com as medidas precisa dizer qual é a alternativa. “Eu já faço uma sugestão pública aqui: vamos aumentar os impostos das bets, que estão corroendo as finanças populares, e é uma área que precisa de mais receita. Isso poderia diminuir, por exemplo, o impacto do IOF e criar alternativas. Vamos pensar em alternativas viáveis, seguras, que deem segurança para receita fiscal e a gente não têm impacto”, afirmou.
Para ele, o Banco Central precisa começar a baixar a Selic – que atualmente está em 14,75% ao ano – porque as medidas de IOF lançadas na semana passada são restritivas para o crédito. “Vamos baixar a Selic, porque tem espaço para fazer de forma gradual, segura e sustentável”, sugeriu. “Eu nunca falo disso, mas hoje, como você está aqui (Haddad), eu falei, para te defender, porque você não pode ficar sozinho segurando todo esse desafio gigantesco que nós temos pela frente”.
Mercadante disse ainda que avalia que os bancos públicos têm um papel decisivo nesse novo cenário. “A nossa preocupação central hoje aqui é o impacto da inteligência artificial. Depois vai vir a computação quântica. Ela é decisiva em relação à produtividade, à eficiência, à gestão, em todos os setores importantes da economia. Então, nós estamos debruçados sobre essa agenda, e junto a essa agenda, nós queremos impulsionar a indústria 4.0, porque essa é a indústria do futuro, a indústria do conhecimento”, mencionou.