Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – Segurança pública é o problemas de Manaus mais citado pelos eleitores em pesquisas de intenção de voto para prefeito neste ano. Para combater o problema, os candidatos a prefeito entoam discurso comum de ampliar a guarda municipal armada. Para especialistas ouvidos pelo ATUAL, a Guarda Municipal tem pouco poder de ação para combater a criminalidade.
“O maior problema de Manaus tem relação com a taxa de homicídios”, diz o sociólogo Luiz Antonio Nascimento, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Para o professor, quem tem “poder de polícia” é o Governo do Amazonas.
“O papel da guarda municipal é guardar o patrimônio público. Mas não tem papel de polícia, embora possa ter um papel secundário. Nesse aspecto, o poder público municipal não tem como enfrentar objetivamente ou enfrentar diretamente a questão da segurança. O poder público pode, tanto o prefeito quanto a câmara municipal, promover ações e políticas públicas que contribuem para o enfrentamento da cultura da violência”, afirma Nascimento.
Segundo o sociólogo, no Amazonas há uma falta de política de segurança pública. “A prefeitura precisa promover espaços de lazer e de cultura para as crianças e adolescentes para desenvolver a capacidade de mediar conflitos. A gente precisa, por exemplo, que a prefeitura contribua criando espaços públicos, centros de referência de mediação de conflitos”, defende.
Luiz Nascimento acredita que a maioria dos conflitos em Manaus são entre “pessoas comuns” e a outra parte se deve ao crime organizado. “A maior parte desses homicídios ocorre entre cidadãos por bobagem, por conflitos combinados com feminicídio, com abuso e violência sexual, etc. Mas quando você delega para o crime, você desresponsabiliza a sociedade e desresponsabiliza a própria polícia… O policial chega no local do crime já dizendo que aquele crime é resultado do tráfico, mas não foi feita a investigação para chegar a essa conclusão. E aí você desobriga a sociedade e não combate aquele tipo de violência”, diz.
Para o antropólogo Nonato Pereira, os sentimentos de insegurança do manauara mostram como a população se vê e se sente em relação às propostas dos candidatos à prefeitura. “Veja, sentimento de insegurança é algo extremamente particular, pessoal, subjetivo, um sentimento próprio da pessoa. Não é uma ação política, onde eu critico as ações do Estado em relação à segurança, do poder público em relação à saúde púbica”, diz.
ignifica também, segundo Nonato Pereira, o “descrédito nas propostas” dos candidatos. “Esse sentimento de segurança, ele também indica que as pessoas estão com certo descrédito em relação às propostas advindas dos postulantes a cargos de representação e também aos cargos executivos. Porque espera-se que essas pessoas teriam que ter algumas propostas concretas para ter um sentimento de segurança”, diz.
Outro sentimento gerado pelo discurso político, conforme o antropólogo, é o de indiferença. “Espera-se que o problema seja resolvido ou encaminhado a uma solução porque esse sentimento profundo gera uma indiferença em relação às próprias propostas políticas ”.
Para Nonato Pereira, a Guarda Municipal ganhou status de polícia civil e polícia militar, de “órgão de segurança pública”, mas não gera confiança e sensação de segurança. “Não é o fato de ser municipal ou estadual que traz uma segurança, mas simplesmente as ações do corpo de segurança. É necessário que os órgãos de segurança pública trabalhem pautados nos serviços de inteligência e com projetos a médio e a longo prazo”, diz.
O antropólogo lembra que o problema da falta de segurança surge quando o poder público desconsidera as necessidades básicas da população. “Outros fatores ou variáveis que contribuem também para a insegurança é quando você desconsidera a questão do saneamento básico, desconsidera a qualidade e os serviços de águas oferecidas à população de péssima qualidade”, complementa.
O mal serviço de segurança pública gera insegura e produz problemas de saúde mental como ansiedade, incertezas e descrença no poder público.
“O sujeito que está descrente no papel da segurança pública, que constantemente assiste em veículos de comunicação cenas de violência, homicídios, agressões, barbáries das mais diversas formas, obviamente será invadido por um sentimento de insegurança, principalmente se já passou por alguma situação na qual foi exposto ao perigo das ruas urbanas”, afirma a psicóloga Regina Filho.
“Se o indivíduo já sofreu alguma forma de violência e ato criminal, essa resposta de medo tende a ser potencializada”, acrescenta.