EDITORIAL
MANAUS – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), foi questionado pela repórter Alessandra Taveira, do AMAZONAS ATUAL, nesta quinta-feira (17) sobre a motivação dele de armar a guarda municipal com arma de fogo. A pergunta foi formulada nesses termos: Se já existe uma polícia armada, por que armar a guarda municipal? A resposta do prefeito a seguinte: “pela necessidade de ter mais segurança pública”.
Ele se exaltou na resposta, elevando o tom de voz, para também dizer: “Pra bandido, pra vagabundo, não se pode dar moleza. Se eu puder dar arma pra eles, chicote, chibata eu darei para que eles deem nesses vagabundos”. Foi aplaudido.
Para a claque do prefeito, a pergunta da repórter foi uma ofensa. Só os parvos podem pensar assim. A pergunta foi uma tentativa de fazer com que o prefeito expusesse seu pensamento a respeito da medida que ele, a Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa, com a ajuda do governo, tentam implementar na capital.
O AMAZONAS ATUAL não é contra a guarda municipal armada com arma de fogo, mas enxerga com ressalvas a forma como essa medida começa a ser implementada, sem o necessário debate e sem os cuidados que se exige de um tema tão delicado.
Um dos principais pontos é sobre o efetivo da guarda municipal e como ela foi tratada nos últimos anos. Criada para proteger o patrimônio público e não atuar na segurança pública, a corporação guarda municipal foi praticamente dizimada nas últimas administrações.
No lugar de guardas municipais, as secretarias contratavam empresas privadas para fazer o serviço que deveria ser desenvolvido pelos servidores municipais.
Nas últimas duas administrações, os gestores chegaram ao cúmulo de contratar uma empresa que fazia o monitoramento de prédios públicos por câmeras, sem a presença do “elemento humano”. Controladas por uma central, quando as câmeras detectavam a presença de pessoas suspeitas, uma patrulha era acionada, e chegava ao local apenas para “chorar o leite derramado”.
Agora, ao calor dos acontecimentos do fatídico primeiro domingo de junho, quando criminosos atearam fogo em ônibus, terminais de bancos e prédios púbicos, os políticos se apressaram em mudar as leis para armar a guarda municipal.
A resposta do prefeito à repórter só reforça a ideia de que ninguém sabe, até aqui, o que a guarda municipal vai fazer, de fato.
David Almeida cita o exemplo dos bandidos incendiários, que atearam fogo em uma praça na presença de três guardas municipais: “Se eles têm arma, tinha autorização de derrubar aqueles três vagabundos para servir de exemplo”. Mais uma vez foi aplaudido.
Uma guarda municipal armada pode sim, melhor cuidar do patrimônio público. Se a prefeitura pode contratar uma empresa de segurança para vigiar com homens armados, não é razoável que seja impedida de montar sua própria estrutura de segurança.
Mas o discurso de que a guarda municipal vai contribuir para a segurança pública em geral é falso, se ela não tiver um efetivo adequado. E qual é o tamanho desse efetivo? Ninguém sabe.
E até aqui, nada se discutiu sobre o assunto. Assim como não se sabe qual será de fato o raio de atuação desses profissionais, se na rua ou na defesa do patrimônio público, como faz desde que foi criada.
Uma pergunta, quando mais incômoda, mais produz efeito. A resposta nunca é para o repórter, mas para a sociedade, para que ela tome conhecimento do que pensa o entrevistado. Neste sentido, a pergunta em questão cumpriu sua função.
Mas diante da resposta de David Almeida, os bajuladores usaram as redes sociais para lamber-lhes as botas e fazer parecer que havia uma competição entre o prefeito e a jornalista, o que não é verdade.
Um vereador chamou de “resposta épica” e disse que “David mitou”. Esse vereador está no terceiro mandato e nunca esboçou qualquer preocupação em melhorar a eficiência da guarda municipal.
Mas é preciso agradar o chefe. Por isso, ele curva a espinha dorsal até onde consegue para parecer um bom serviçal.
Independente da resposta, apoiado. Guarda sem armas, pode colocar qualquer “vigilante”, que não terão reação. Exceto se eles tiverem o telefone da POLÍCIA, aí eles ficam “vigiando” e chamam a polícia se for necessário.