Por Marianna Holanda e Matheus Teixeira, da Folhapress
BRASÍLIA – Parlamentares da base aliada deixaram a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira (8) com discurso alinhado ao do mandatário em relação às críticas ao Banco Central devido à taxa de juros.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, por sua vez, botou panos quentes na crise e disse que não há fritura de diretores da autoridade monetária.
“Não existe nenhuma iniciativa do governo sobre mudança da lei [da autonomia] do Banco Central e nenhuma pressão sobre mandato de qualquer diretor. A lei estabelece claramente que tem mandatos e que serão cumpridos”, disse a jornalistas.
Questionado sobre qual resposta o governo espera dos senadores, como Lula cobrou na véspera, Padilha disse que há uma lei e ela tem de ser “seguida, acompanhada e cumprida por todos”. Cabe ao Senado indicar e supervisionar a atuação de dirigentes da autoridade monetária.
Líderes da base, porém, adotaram outro tom após a reunião com o petista no Palácio do Planalto e afirmaram que o movimento para forçar a ida do presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao Congresso para prestar explicações ganhou musculatura, o que deve acirrar os ânimos entre Lula e a instituição financeira.
O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, disse que Neto “tem que ser enquadrado” e que “vários” integrantes da base prestaram apoio ao movimento do presidente de “enfrentar essa política econômica do Banco Central”.
“O que estou dizendo é que o senhor presidente do Banco Central é um representante da Faria Lima e está fazendo o jogo da Faria Lima em detrimento do país”, disse em referência à avenida de São Paulo que concentra bancos de investimento.
Paulinho afirmou que o que tumultua a economia é a alta taxa de juros, e não as declarações sobre o trabalho da autoridade monetária. “O Banco Central não pode ser o Vaticano, que está dentro da Itália, mas quem manda é o Papa”, afirmou.
Segundo o presidente do partido, “pelo menos” oito integrantes da reunião endossaram as críticas de Lula ao Banco Central, entre eles a chefe do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Outros parlamentares preferiram falar sob reserva sobre o assunto, mas também admitiram que o convite para Neto ir ao Legislativo deve ser aprovado e que, caso se negue a comparecer, ele pode ser convocado, o que torna obrigatória a presença no Legislativo.
A previsão nos bastidores é que no máximo até a segunda semana de março haverá uma sessão para que Neto seja ouvido por parlamentares.
Nos últimos dias, Lula tem feito duras críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele disse nesta semana que a atual taxa básica de juros do país, a Selic, é uma vergonha.
“Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50% [ela está na verdade em 13,75%]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro”, disse Lula.
Ele também já classificou a autonomia do Banco Central como uma “bobagem”. “O problema não é de banco independente, não é de banco ligado ao governo. Problema é que esse país tem uma cultura de viver com os juros altos”, afirmou Lula.
“Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp [federação da indústria paulista] falava era quando aumentava os juros. Era o único dia […]. Agora, eles não falam”, disse na segunda-feira (6).