Ninguém chora por Dilma Rousseff, nem uma única carpideira. Em seu funeral, nenhuma vela ou fita amarela, gravada com o nome de seu criador e mentor, o ex-metalúrgico Lula da Silva. Nem as senadoras de sua tropa de choque na Comissão de Impeachment estarão dispostas a carpir o cadáver, mas insistirão no teatro da agonia, com o mantra do golpe e da violação ao estado democrático de direito. Não foram convocadas para a sessão de “training” no Alvorada, destinada a preparar a presidente para o enfrentamento de perguntas embaraçosas ou difíceis de serem respondidas, quando de seu depoimento no Senado Federal, marcado para o próximo dia 29. No adestramento final, somente os senadores Humberto Costa, Paulo Rocha e José Pimentel, numa atitude que pode denotar certo machismo, do qual Dilma se apresenta como vítima.
Há em tudo isso muito jogo de cena, um conjunto de ações preparatórias, apenas com o propósito de pavimentar o retorno do lulopetismo às hostes da oposição, onde já dá seus primeiros passos. Portanto, ultrapassada a última fase do impedimento, cumpre deixar o cadáver o quanto antes definitivamente sepultado. É o que fazem os dirigentes do PT, que nunca se sentiram realmente representados no governo, até porque Dilma jamais vestiu pra valer o macacão com as cores petistas.
Confesso que não consigo identificar qualquer virtude, mínima que seja, na atuação da presidente afastada. Lá sei, pelo menos alguns poucos aspectos positivos em seu governo, que afastassem uma visão maniqueísta, limitada entre o bem e o mal absolutos. No entanto, sendo o ser humano um somatório de contradições e extremos, inclinando-se com maior ou menor intensidade num ou noutro sentido, observa-se em Dilma uma tendência para o desastre político, com o despreparo pessoal levado às ultimas consequências e a imagem da desvirtude permanente.
Passada a campanha, toda estruturada sobre a mentira e a fraude, Dilma começou a revelar-se inteira, como de fato é e sempre foi. Sem dispor dos milagres do marketing, mostra-se de improviso aos olhos da Nação, cometendo todo tipo de asneiras retiradas de seu interminável arsenal de sandices. Sem os retoques providenciais e mágicos de seu marqueteiro João Santana, preso e processado pela Lava-Jato, experimenta uma sucessão de tragédias, em suas entrevistas, notas e pronunciamentos públicos.
É o que se vê agora com a carta que dirigiu aos senadores e ao povo brasileiro e em encontro com correspondentes da imprensa estrangeira. De costume, martela sobre o discurso de uma nota só, ao proclamar-se inocente, vítima de um golpe parlamentar, diante da inexistência de crimes de responsabilidade. Uma retórica indefensável, cansativa, exasperante, ranheta, compatível com a figura desagradável da presidente faltosa.
A destempo e em mais uma ação desonesta, propõe a antecipação de eleições presidenciais via consulta plebiscitária, sabendo-a inviável, pois não conta sequer com o apoio de seu partido, muito menos do parlamento e do vice Michel Temer. Posa de democrata, embora intolerante com o uso do diálogo, instrumento do regime democrático, fazendo jus à sua reconhecida vocação autoritária, muito bem tipificada no passado de guerrilheira, quando defendia a implantação no país da ditadura do proletariado. Fala que seu grande erro político foi a escolha do companheiro d e chapa, subestimando o apoio que recebeu do PMDB, sem o qual jamais seria reeleita. Como convém, omite que seus graves equívocos e desregramentos sempre estiveram umbilicalmente ligados ao seu temperamento irascível, no trato da questão política e em seu relacionamento com o Congresso Nacional. Acenando com um impossível reordenamento comportamental, promete o que jamais cumprirá, porquanto a impaciência e a grosseria, somadas à inaptidão no gerenciamento das relações humanas e políticas, são indissociáveis de sua natureza. Em relação ao combate à corrupção, repete a mesma ladainha, como se fosse admissível uma posição contrária à Operação Lava-Jato, que recebe os mais entusiásticos aplausos da sociedade brasileira.
No mesmo instante em que Dilma endereçou sua defesa ao Senado, numa infeliz coincidência, o Supremo Tribunal Federal autorizou investigação contra Lula e a própria, por tentativa de atrapalhar a Lava-Jato – obstrução da justiça, com fundamento em provas sólidas. A carta da presidente, sem nenhuma repercussão sobre o processo de impeachment, caiu no vazio. Imagine-se então o que virá com sua anunciada presença no dia do julgamento, quando de sua inquirição pelos senadores favoráveis ao impedimento. Será a crônica da morte anunciada, sem que ninguém possa derramar um a lágrima, nem seus mais próximos auxiliares, vítimas de sua proverbial indelicadeza.
Já não era sem tempo, vade-retro Dilma Rousseff!