Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – A fumaça que encobre Manaus desde sábado (10) é causada por focos de incêndios criminosos, detectados em diversos municípios, diz a especialista em Percepção Ambiental da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Amélia Batista.
“Dizer que vem (a fumaça) do município X ou do município Y é o que menos importa. A causa da fumaça não é algo natural, ela não é causada pela natureza. Ela é produzida pelas queimadas e não são pequenas queimadas de fundo de quintal”, diz.
Para a especialista, parece que a fumaça que se mantém no céu de Manaus “virou uma questão da natureza e do verão” e que tira a responsabilidade das pessoas.
“Então, não é uma questão de dizer que a minha responsabilidade é menor porque vem do município X ou Y. A fumaça é produzida no estado do Amazonas. Portanto, deveria ser uma preocupação ambiental de responsabilidade mais coletiva, independente do município. O município (a população) está sofrendo com essa queimada porque está tendo focos de grandes queimadas”, diz Batista.
Amélia lembra que há vinte anos não havia fumaça em grandes quantidades pairando sobre a cidade de Manaus, mas agora virou “uma rotina de verão”.
“Eu sou amazonense, moro em Manaus a minha vida inteira, e esses últimos anos isso virou quase uma rotina do nosso verão. Talvez seja coincidência, mas elas (fumaças) ficaram mais intensas com o desmatamento. Se você faz um retrospectivo histórico, não existe relato de que a cidade tinha fumaça. Essa fumaça começou a se intensificar nos últimos cinco ou seis anos, que coincide com o desmatamento, mais criação de gado, a soja, a mineração… Portanto, o combate não deveria ser contra a fumaça, mas sim contra o desmatamento, para não gerar altas temperaturas nesse período do ano”, diz Batista.
Dados do Selva (Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental) da UEA (Universidade do Estado do Amazonas) mostraram na tarde de segunda-feira (12) muitos pontos de focos de queimadas no Sul do Amazonas e em algumas áreas em municípios próximos a Manaus.
“Segundo o banco de dados de queimadas do CPTEC/INPE (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram registrados 349 focos decorrentes dos incêndios florestais no estado do Amazonas no período de 10/8 a 12/8/2024”, diz Natacha Aleixo, especialista em Climatologia Urbana.
Para Aleixo, a maior concentração de focos de queimadas está no Sul do Amazonas, mas também existem focos em municípios próximos a Manaus como em Manacapuru e Manaquiri. “A fumaça que chegou à capital foi transportada pelas correntes de vento que entre os dias 10 e 12, conforme os dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), vieram predominantemente na direção Sudeste e Sudoeste”, diz Aleixo.
Para além das queimadas
Segundo Natasha Aleixo, existem outras fontes de emissões de calor que contribuem para agravar a situação de fumaça na cidade. “Na capital há outras fontes de emissões de gases e particulados (partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar), que são somadas à fumaça proveniente dos incêndios florestais, a queima de combustíveis fósseis pelos veículos automotores e as emissões em termelétricas. O que favorece a concentração de poluentes e a piora da qualidade do ar (em Manaus)”.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda reduzir o uso de combustíveis fósseis e outras medidas para diminuir os níveis de poluição do ar.
A estimativa é de que a exposição à poluição do ar cause 7 milhões de mortes prematuras e resulte na perda de milhões de anos de vida saudáveis a cada ano. Muitas doenças, como o câncer de pulmão, a asma, outras doenças respiratórias crônicas e até os infartos estão relacionados com essa exposição ao ar tóxico.
No início da manhã desta terça-feira (13), a qualidade em sete áreas de Manaus é péssima, segundo o sistema Selva. Em cinco a classificação é ruim e em apenas uma é moderada. Confira no mapa. A medição foi registrada às 7h.
Mudei para Manaus em 2014 e sempre houve esse problema nessa época do ano. No primeiro dia que vi, achei que havia um grande incêndio na cidade, foi desesperador. Perguntava às pessoas e simplesmente me diziam que eram as queimadas. É algo insuportável, insalubre. Não é algo novo não, ao menos há 10 anos vem ocorrendo.