Na manhã desta quarta-feira foi lançada oficialmente a Campanha da Fraternidade de 2021 que contou com a participação de representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), instituições reconhecidas e respeitadas mundo afora. A Campanha da Fraternidade, que ocorre todos os anos no período da quaresma (40 dias que antecede a Páscoa), em 2021 está sendo promovida de forma ecumênica, ou seja, em parceria entre várias Igrejas Cristãs.
Na sua origem, a Campanha da Fraternidade foi inspirada nas campanhas assistenciais que a Cáritas Brasileira, instituição que atua no atendimento às emergências sociais da Igreja Católica, realizavam e continuam realizando para atender às demandas dos mais pobres. Na quaresma de 1962, a Cáritas realizou uma ampla campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais em Natal, capital do rio Grande do Norte. Chamaram esta atividade de Campanha da Fraternidade que foi seguida por outras dezesseis dioceses do nordeste.
Seguindo o modelo da Cáritas, em 1964, o Secretariado Nacional de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), orientado pelas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral Evangelizadora da Igreja no Brasil, lançava a primeira Campanha da Fraternidade em nível nacional, impulsionada pelas diretrizes e desafios apresentados no Concílio Vaticano II.
Desde então, oficialmente a Campanha da Fraternidade passou a ser realizada no período da quaresma com dois objetivos centrais: reflexão e ação. Cada ano é escolhido um tema central para a reflexão quaresmal. Geralmente os temas da reflexão priorizam questões internas da religião, categorias sociais vulneráveis ou em situação de ameaça que precisam de uma atenção especial de todo a igreja e da sociedade. Dessa forma, os temas reflexivos versam em torno de questões que vão desde a renovação da igreja (Igreja em Renovação, tema de 1964), passando por questões socioambientais (Biomas brasileiros e defesa da vida, tema de 2017) até as categorias sociais mais excluídas e ameaçadas (migrantes, moradores de rua, sem-terra, pessoas com deficiência, crianças abandonadas, dentre outras).
Da reflexão profunda à luz dos ensinamentos bíblicos e teológicos surge a ação concreta em defesa da vida. Historicamente, desde aquela primeira provocação da Cáritas em 1961, a ação vem em forma de doação de recursos para financiar projetos voltados para atenção emergencial das categorias sociais mais vulneráveis da sociedade, independente da religião. No final da quaresma, a igreja realiza uma ‘coleta fraterna’ que é destinada ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que coordena diversas ações sociais através do financiamento de projetos e com total transparência na prestação de contas disponível no site do FNS (https://www.cnbb.org.br/conheca-o-fundo-nacional-de-solidariedade-o-fns-criado-com-recursos-das-campanhas-da-fraternidade/).
Com este histórico, a Campanha da Fraternidade se transformou em “uma atividade ampla de evangelização desenvolvida num determinado tempo (quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viverem a fraternidade em compromissos concretos no processo de transformação da sociedade a partir de um problema específico que exige a participação de todas as pessoas na sua solução”.
Neste ano, a Campanha da Fraternidade foi organizada de forma ecumênica, como tem sido a cada cinco anos a partir do ano 2000, como um gesto concreto para se viver os desafios do novo milênio. A coordenação da Campanha da Fraternidade Ecumênica fica à cargo do CONIC, do qual fazem parte a Aliança de Batistas do Brasil – ABB (aliancadebatistas.org), Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR (www.cnbb.org.br), Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB (www.ieab.org.br), Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB (www.luteranos.com.br), Igreja Presbiteriana Unida – IPU (www.ipu.org.br), Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – ISOA (www.igrejasirianortodoxa.org).
Mais do que em todos os outros anos, 2021 precisa de fraternidade, palavra de origem latina frater, que significa irmão/irmã, com sua derivação fraternitas que significa “irmandade, conjunto de irmãos/irmãs, afeição entre irmãos/irmãs”. Num ano marcado pela pandemia do novo coronavírus que espalha morte, dor, fome, miséria e desespero no mundo inteiro, a reflexão e ação da Campanha da Fraternidade se fazem justas e necessárias. Mais do que nunca, o mundo precisa de fraternidade! E é do Brasil que vem o exemplo reconhecido e recomendado pelo Papa Francisco em mensagem por ocasião da abertura da campanha, como tem ocorrido todos os anos, desde 1970.
Em sua mensagem, o Papa Francisco destaca trechos do texto base da Campanha da Fraternidade: “Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a “sentar-se a escutar o outro/outra” e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes um mundo surdo. De fato, quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos “um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o/a outro/a” (https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-02/mensagem-do-papa-francisco-ocasiao-da-campanha-da-fraternidade.html).
O texto base da Campanha da Fraternidade de 2021 critica a ‘negação da ciência’ neste tempo de pandemia, a ‘cultura de violência’ contra mulheres, negros, indígenas e LGBTIQ+ e o descumprimento do distanciamento social por parte até mesmo de seguimentos religiosos, o que tem resultado em mais contaminação e no surgimento de novas cepas do coronavírus.
O Texto Base e os Encontros de Reflexão (em família ou em grupos online), propõem discutir “sobre possíveis caminhos para o diálogo e a construção de pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio (Texto Base, n. 02). Seus/suas organizadores/as acreditam que a Campanha da Fraternidade 2021 poderá contribuir para fazer “florescer a cultura da paz como consequência da transformação de todas as estruturas desiguais como o racismo, a disparidade econômica, de todas as formas de segregação, geradoras de conflito e violencia” (Texto Base, n. 02).
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.