Nos últimos dias nos chegam a cada momento notícias a respeito dos incêndios que ocorrem no Brasil, atingindo principalmente os biomas Pantanal e Amazônia. São catástrofes que chocam a população brasileira, mas também a comunidade internacional, que clama por uma ação mais efetiva de combate e prevenção à destruição destes ecossistemas tão significativos para o planeta.
O Pantanal, embora sendo uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, constitui o bioma de menor extensão territorial do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente 150.355 km² (IBGE 2004). Trata-se de uma planície aluvial, que é influenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Este bioma se estende por Brasil, Paraguai e Bolívia e é uma das áreas de maior biodiversidade do mundo. Estudos indicam que o Pantanal abriga os seguintes números de espécies catalogadas: 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos sendo 2 endêmicas. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas mil espécies de plantas já foram identificadas no bioma e classificadas de acordo com seu potencial, e algumas apresentam vigoroso potencial medicinal (MMA).
Até quinta-feira, 17, foram quase 16 mil focos de incêndios, o maior número de queimadas desde 1998, quando o INPE começou a contabilizar essas estatísticas. O fogo já atingiu 20% do bioma, principalmente unidades de conservação e vegetação nativa. Especialistas em manejo de animais silvestres relatam que os incêndios afetam principalmente répteis, anfíbios e pequenos mamíferos. Além de queimados, muitos animais são atropelados ou expostos aos predadores e ficam sem água e comida.
Quanto a Amazônia, trata-se do bioma que obteve a maior perda entre os anos 2000 e 2018, tendo 269,8 km² da sua vegetação destruída. Neste período a Amazônia perdeu quase 8% de sua cobertura florestal, substituída principalmente por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km², 2018. A Amazônia sofreu a maior redução de coberturas naturais entre os biomas brasileiros.
Como a Amazônia é uma floresta tropical úmida, os incêndios mais recorrentes ocorrem quando a madeira desmatada fica “secando” por alguns meses e, depois, é incendiada para abrir espaço para pastagem ou agricultura. De janeiro a dezembro de 2019, foram registrados 89 mil focos de calor na Amazônia, 30% a mais do que no ano anterior, de acordo com o Inpe. Já entre os meses de maio e julho de 2020, houve um aumento de 23% nos focos em comparação ao mesmo período no ano passado. Além disso, junho apresentou os maiores índices para o mês em 13 anos.
Considerando toda a Amazônia Legal no primeiro semestre deste ano, 60% dos focos aconteceram em propriedades rurais, sendo 50% em fazendas de médio e grande porte e 10% em pequenas propriedades. As terras indígenas correspondem a 12% dos focos de calor. Os dados são da nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), divulgada em agosto deste ano, e vão de encontro ao discurso de Bolsonaro na ONU na terça-feira (22), quando ele disse que “índios e caboclos” são os responsáveis pelas queimadas na Amazônia.
Tanto no Pantanal quando na Amazônia os motivos apontados pelos especialistas são os mesmos: a falta de estrutura para combater o fogo e a ausência do Estado. O Imazon, instituto que faz pesquisas na Amazônia, aponta dois motivos que colaboram para o desmatamento ilegal. O estímulo que está vindo do mercado e o enfraquecimento do lado da política na aplicação da penalidade, da fiscalização e da prevenção.
A omissão do governo federal, portanto, não se restringe às crises sanitária e social, que atingem proporções catastróficas no Brasil. Fechado aos grandes problemas do Brasil, o governo de Bolsonaro não tem programa, jogando o país no caos. No alto da sua incompetência, o Presidente coloca a culpa nos outros: as queimadas das florestas são culpa dos índios, a crise atual do Brasil é culpa da mídia, a inação do seu governo frente à pandemia é culpa do Judiciário e dos governadores. Se depender deste governo, as previsões científicas vão se concretizar antes do tempo esperado: o fim das florestas antes do final deste século. Acabando as florestas, os seres humanos dão mais um passo rumo ao seu fim.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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