MANAUS – Com a imagem das empresas multinacionais arranhada pelas notícias a respeito das investigações do descarte ilegal de lixo em áreas de floresta na zona leste de Manaus, o vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Nelson Azevedo, afirmou, em entrevista ao AMAZONAS ATUAL, que as indústrias do Polo Industrial de Manaus podem estar sendo vítimas da ação de terceiros com conivência de autoridades. “Fomos surpreendidos ao saber o que estava acontecendo. Ninguém quer resolver este assunto mais do que nós”, disse o vice-presidente.
Azevedo disse também que a Fieam está recebendo informações que ele considera absurdas, de que estão jogando entulho nos ramais citados no inquérito aberto pelo Ministério Público do Estado do Amazonas para prejudicar as indústrias e que isso é feito com a conivência do poder público. “Nós estamos investigando se foram elas (as empresas terceirizadas) que jogaram o lixo nesses locais. Estão chegando muitas informações até nós que são absurdas. Por exemplo, a de que jogaram entulho no Brasileirinho, cometendo esse ato inescrupuloso para prejudicar a imagem do PIM com a conivência de autoridades”, comentou.
Azevedo disse que a Fieam está realizando reuniões para apurar o que está acontecendo e já esteve com o vereador Everaldo Farias (PV) e com o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) para tratar do tema. “Nós soubemos do caso pela mídia e ficamos completamente chocados com a situação. Estamos falando aqui de empresas tradicionais do Amazonas e de multinacionais, todas sérias e comprometidas com a região”, disse.
ISO 14000
Azevedo argumentou que as organizações não têm culpa se as empresas contratadas não dão um destino correto ao lixo produzido nas fábricas. A Lei Federal nº 12.305 de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsabiliza a empresa geradora do lixo até o descarte final, mesmo que ela contrate terceiros para fazer esse descarte.
Azevedo explicou que as fábricas do Polo Industrial de Manaus terceirizam o serviço de gerenciamento de resíduos sólidos porque recebem garantias das empresas contratadas de que o lixo terá uma destinação correta. “Essas empresas são contratadas porque possuem credenciamento dos órgãos ambientais competentes: Cedema, Ipaam, Ibama e outras para realizar este tipo de serviço. Elas emitem todo mês nota fiscal e um recibo dando conta do descarte correto do lixo. O empresário confia que isso está acontecendo, como é que ele vai descobrir? Como essas empresas conseguiram as licensas para trabalhar com lixo?”, questionou Azevedo.
A crise torna-se maior ainda pelo fato de todas possuirem o selo de qualidade em gestão ambiental auditado pela International Organization for Standartization, a conhecida ISO 14000.
Os acontecimentos chamaram atenção da mídia nacional. Uma equipe do programa Globo Natureza, da Rede Gobo, virá a Manaus para realizar uma reportagem sobre o caso.
“Já chegou lá essa história?”, perguntou Azevedo, afirmando ainda desconhecer o fato. “Não estamos de braços cruzados em relação a esse problema. O conhecimento da situação já está na matriz de algumas das fábricas do PIM que mostraram preocupação e descontentamento com a situação”, disse o vice presidente Azevedo.
Investigação do PIM
Ele negou que o Ministério Público do Estado do Amazonas já tenha entrado em contato com a Fieam desde que foi anunciada, no dia 9 de julho, a abertura de um inquérito cível para investigar o descarte ilegal de resíduos sólidos nos ramais do Brasileirinho, do Bartolomeu e do Puraquequara.
O MP-AM acatou a um pedido feito pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Manaus (CMM) que primeiro recebeu as denúncias da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), que constatou a existência dos lixões clandestinos nos ramais.
De acordo com levantamento do Ministério Público, são 26 as empresas contratadas pelas fábricas do Pólo Industrial de Manaus para gerenciar o descarte dos resíduos sólidos. Elas serão investigadas por cometer crime ambiental. Ainda segundo o promotor de justiça Fábio Monteiro, existem informações de que essas empresas teriam se unido para absorver toda a coleta de lixo das fábricas do PIM.
Apesar das denúncias, Nelson Azevedo disse que o contrato com as empresas coletoras de lixo não será quebrado. “Se não forem elas, quem será? Não existem outras em Manaus!
As indústrias que estão sob a investigação do MP-AM são: Samsung Eletrônica da Amazônia, LG Eletronics do Brasil Ltda, Videolar,Bic da Amazônia S/A, Phillips da Amazônia Indústria Eletrônica, Yamaha Motor da Amazônia, Procter & Gamble do Brasil S/A, MK Eletrodomésticos Mondial S.A, Colortech da Amazônia Ltda, Benchimol Irmão & Cia Ltda, Supermercado Veneza, Condomínio Manauara Shopping, JE Amazônia Reciclagem, Magistral – J Cruz Indústria e Comércio Ltda, Real Bebidas, Qualitech Indústria Comércio Representações Ltda, Centro de Alumínio Ltda, Arosuco Aromas e Sucos Ltda.
A assessoria da Presidência da Fieam também enviou nota à Redação contestando as informações publicadas. Segue a nota.
FIEAM tem interesse em ver questão do lixo esclarecida
Ao contrário do que foi publicado neste portal, a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) tem todo o interesse de ver esclarecida a denúncia do descarte irregular do lixo, um tema da mais alta importância e que, de uma forma ou de outra, afeta toda a sociedade.
Infelizmente, acreditamos que houve falha de comunicação quando da tentativa de contato da reportagem desse portal com a assessoria da Federação.
A FIEAM jamais evitou falar do assunto, tanto que já foram realizadas reuniões com o Prefeito Arthur Neto e o vereador Everaldo Farias, Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Manaus, tendo como tema a denúncia em questão.
Para as informações adicionais que se fizerem necessárias, a FIEAM coloca seu Vice-Presidente, Nelson Azevedo, à disposição desse Portal.