Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Em depoimento aos senadores na CPI da Covid nesta terça-feira, o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou que o desabastecimento de oxigênio nos hospitais de Manaus durou apenas dois dias: 14 e 15 de janeiro. A declaração de Campêlo irritou os senadores.
Ao ser questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre o período que faltou oxigênio medicinal no estado, Campêlo respondeu: “Na nossa rede pública estadual foram dois dias. (…) Nós temos registro de intermitência de fornecimento de oxigênio nos dias 14 e 15 de janeiro”, afirmou.
Após contestações, o ex-secretário respondeu que a procura por oxigênio após os dias 14 e 15 foi feita por pessoas que faziam tratamento em casa. “Uma coisa é faltar na rede de saúde. Outra coisa é o paciente que está tratando em casa porque não tem vaga no hospital tentar comprar no mercado e não existir”, disse.
Em outro momento da reunião, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) voltou a questionar o ex-secretário sobre o período que faltou oxigênio no Amazonas e Campêlo respondeu que “muitas pessoas ficaram em tratamento domiciliar” porque “havia uma superlotação” nos hospitais.
A declaração de Campêlo irritou os senadores Omar Aziz (PSD), Eduardo Braga (MDB) e Eliziane Gama. A senadora maranhense desabafou: “O senhor está tentando infantilizar essa comissão. (…) É revoltante ouvir do senhor que só faltou oxigênio dois dias no Estado do Amazonas”, disse.
Ao ser questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Campêlo disse que faltou oxigênio no mercado por 20 dias. “De fato, a falta de oxigênio no mercado foi até o final do mês de janeiro. Começou no dia 14, a data crítica de fornecimento para as unidades, e se estendeu por 20 dias”, afirmou.
Pazuello
Aos senadores, o ex-secretário reafirmou que ligou para o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no dia 7 de janeiro e o informou da necessidade de trazer oxigênio de Belém (PA) para Manaus. Campêlo disse que Pazuello o orientou a buscar apoio do CMA (Comando Militar da Amazônia).
No dia 8 de janeiro, segundo o ex-secretário, o CMA providenciou 300 cilindros de 10 metros cúbicos.
Campêlo disse que, no dia 9 de janeiro, a pasta passou a enviar “diariamente ofício ao Ministério da Saúde pedindo apoio em relação a essa questão da logística”. Questionado se o governo federal havia respondido as correspondências, Campêlo respondeu: “não houve resposta, que eu saiba”.
De acordo com o secretário, no dia 10 de janeiro, o ministro foi informado sobre o atraso na entrega de oxigênio pela empresa White Martins. “No dia 10 informei a preocupação com as entregas da White Martins e no dia 11, a partir daí, o ministério passou a tratar diretamente com a empresa”, disse.
Vulnerabilidades
Campêlo citou como vulnerabilidades a “escassez de profissionais especializados”, a falta de leitos de UTI nos hospitais do interior do estado e a logística. O ex-secretário também disse que o estado recebeu R$ 470 milhões do governo federal, sendo que R$ 115 milhões foram para ações contra a Covid-19.
O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) contestou a alegação do ex-secretário afirmando que o Governo do Amazonas tinha dinheiro suficiente para os serviços. “Nunca faltou dinheiro ao estado do Amazonas para tomar as providências necessárias para o enfrentamento da pandemia”, afirmou.
Imunidade de rebanho
Campêlo negou que o Governo do Amazonas tenha adotado a tese da imunidade de rebanho. “Essa tese nunca foi ventilada em qualquer reunião que eu participei. A doutora Rosemary Pinto, diretora da FVS, era absolutamente contra. Ela era defensora exclusivamente das medidas não farmacológicas”, disse.