Nesse ano de eleições gerais, com cinco cargos em disputa (Presidente da República, governador/a, senador/a, deputados/as federais e deputados/as estaduais) diversas frentes surgiram com o objetivo de contribuir para ampliar o debate em torno da importância do voto como exercício de cidadania e tomada de posição na sociedade. Neste artigo, apresentamos duas importantes iniciativas de orientação para o voto consciente que têm ganhado grande repercussão em nível regional e nacional.
A primeira iniciativa é o Projeto Encantar a Política que foi lançada no final do mês de abril e tem o objetivo de “contribuir para a formação da consciência do eleitor brasileiro, por meio de um processo que o leve a uma leitura crítica e para uma cidadania ativa” (hotsite da CNLB www.cnlb.org.br).
A centralidade do projeto é um caderno de reflexão que foi elaborado com a participação de representantes de diversas instituições, tais como o Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (Cefep), a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), o Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora, o Movimento Nacional de Fé e Política, a Rede Brasileira de Fé e Política, a 6ª Semana Social Brasileira, a Pastoral da Juventude (PJ), a Pastoral da Juventude no Meio Popular (PJMP,) o Movimento dos Padres da Caminhada, a Rede Brasileira Justiça e Paz e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
A iniciativa do Projeto Encantar a Política nasceu da necessidade de vários setores da sociedade que contou com a contribuição de intelectuais, lideranças populares de movimentos sociais animados pelo Conselho Nacional do Laicato no Brasil (CNLB), em parceria com outras instituições vinculadas à Comissão Episcopal para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A preocupação central do caderno Encantar a Política é devolver à sociedade brasileira o verdadeiro sentido da política e despertar para o voto consciente.
Reconhecer que houve um processo de desencantamento que se transformou em ódio à política é o primeiro passo para encantar a política e retomar a participação como processo de transformação profunda da sociedade. Para isso, é preciso esperançar como o fez o professor Paulo Freire em sua “Canção Óbvia” escrita em março de 1971: “Não te esperarei na pura espera porque o meu tempo de espera é um tempo de quefazer. Desconfiarei daqueles que virão dizer-me, em voz baixa e precavidos: é perigoso agir é perigoso falar é perigoso andar é perigoso, esperar, na forma em que esperas, porque esses recusam a alegria de tua chegada. Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me, com palavras fáceis, que já chegaste, porque esses, ao anunciar-te ingenuamente, antes te denunciam. Estarei preparando a tua chegada como o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera”.
Esperançar a política é um convite a entrar na roda da grande ciranda na qual entram todos e todas que querem construir uma sociedade baseada numa política justa, inclusiva e solidária.
Trazendo para o contexto amazônico, a campanha “Eu voto pela Amazônia” promovida pelas diversas instituições que formam a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), objetiva desenvolver várias ações de sensibilização como rodas de conversa sobre a Amazônia e eleições, reflexões, vídeos, materiais para redes sociais, podcast e roteiro de celebrações para as comunidades de dentro e de fora da Amazônia.
A campanha “Eu voto pela Amazônia” quer demonstrar que não existe limite para a verdadeira participação política. E muitas atitudes e lutas comprovam isso. Em 03 de novembro de 2021, o mundo parou para ouvir a única brasileira a discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26). A jovem Txai Suruí, advogada com apenas 24 anos, fiel ao legado de luta do povo Suruí, denunciou os impactos das mudança climática na Amazônia como resultado do desmatamento, das queimadas, do latifúndio, da invasão das Terras Indígenas pelo garimpo ilegal, da contaminação da terra, das águas, do envenenamento dos alimentos. A COP26 representa um dos maiores espaços de debate político do planeta.
Como Txai Suruí, muitos jovens da Amazônia entendem a participação política na sua totalidade. Uma pesquisa no final de outubro deste ano, aponta que a juventude não odeia a política e quer participar mais ativamente para combater a intolerância e a violência imposta por grupos políticos conservadores e reacionários.
Dessa forma, os jovens, a exemplo de Txai Suruí vão apontando os caminhos para o encantamento da política que tem sido tão atacada e evitada por equívocos históricos que precisam urgentemente ser superados. De modo especial na Amazônia faz-se necessário uma tomada de posicionamento político em defesa do território com seu bioma, sua biodiversidade e sua diversidade cultural de todos os povos que aqui vivem.
Assim, a campanha ‘eu voto pela Amazônia’é uma convocaçãopara assumirmos nosso protagonismo político de transformação da sociedade, que implica assumir a luta em defesa da Amazônia e da Casa Comum e “amazonizar” a política.
Amazonizar a política é assumir o voto consciente e eleger quem defende a Amazônia e se posiciona em defesa dos Povos Indígenas e os reconhecem como os verdadeiros protetores do território.
Amazonizar a Política é votar em quem defende as comunidades camponesas, ribeirinhas, seringueiras e quilombolas que convivem com as águas e florestas sem a destruir ou maltratar o bioma como fazem os mercadores do ouro e dos recursos naturais nos garimpos ilegais e nas grandes mineradoras criminosas e ávidas por lucro.
Amazonizar a Política é votar em quem defende a floresta das derrubadas e queimadas, para assim garantir o equilíbrio climático, a formação e distribuição das chuvas. Somente a floresta é capaz de produzir chuvas e regular o clima em todo o Brasil. Quanto menos floresta, mais fome e miséria em todo o país, mais enchentes ou secas, sofrimento, destruição e morte no Brasil inteiro.
Amazonizar a política é votar em quem defende os jovens das periferias e lhes devolve o direito de sonhar um mundo melhor e gritar com todas as forças “vidas jovens, negras e indígenas importam!”
Amazonizar a política é votar em quem respeita e valoriza as mulheres no seu protagonismo político que transforma profundamente a sociedade e a liberta das amarras da opressão do patriarcado.
Amazonizar a política é incluir-se nos espaços e instituições políticas para fazer diferente. Isso faz toda a diferença.
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