
Do ATUAL
MANAUS — A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) se manifestou em nota sobre o estupro coletivo e feminicídio da indígena Rosimar dos Santos Oliveira, de 45 anos, em Barcelos (AM), em que “condena veementemente” o crime. Rosimar, da etnia Baré, foi estuprada e morta por três homens e o corpo jogado em uma área de mata. Segundo a Funai, a violência não faz parte da cultura indígena.
“Em hipótese alguma a violência pode ser vista sob a perspectiva cultural. As culturas indígenas, nas suas diferentes expressões, são constituídas por valores de respeito, equilíbrio e harmonia, tanto com a natureza quanto nas relações humanas. Apesar de interpretações distorcidas – que por vezes associam práticas violentas a costumes tradicionais —, é preciso distinguir os atos individuais, muitas vezes alimentados por desigualdades sociais e contextos de exclusão, das verdadeiras tradições e valores indígenas”, esclarece a fundação.
E acrescenta: “Associar a violência contra mulheres e meninas a elementos da cultura e da organização social de um povo é criar mecanismo para naturalizar esse fenômeno e consequentemente estigmatizar grupos étnicos minorizados”.
A Funai informou que trabalha para garantir que os criminosos sejam responsabilizados e para que a “família da vítima receba o suporte socioassistencial e psicológico adequado às suas especificidades étnicas”.
“Ao tomar conhecimento da denúncia, a Funai acionou a Força Nacional para garantir a segurança e integridade da população local e mediar possíveis situações de conflitos interétnicos. Simultaneamente, uma equipe se deslocou para Barcelos a fim de estabelecer diálogos com a rede socioassistencial para apoio à família e acompanhar o caso junto ao Sistema de Segurança Pública”, diz a Funai.
De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, o crime foi praticado por três homens, todos da etnia Yanomami. Um deles, Sirrico Aprueteri Yanomami, de 19 anos, foi preso na terça-feira (7). Um segundo envolvido foi preso suspeito de ajudar na fuga dos acusados. Outros dois estão foragidos.
A Funai informou também que realiza reuniões com a Asiba (Associação Indígena de Barcelos) e com as comunidades Yanomami e Baré para solucionar possíveis conflitos. “É importante ressaltar que as comunidades condenam o crime e estão contribuindo com o processo de identificação dos envolvidos e na busca por justiça”.
Segundo a Funai, a associação de práticas de violência às comunidades indígenas perpetua estereótipos que dificultam os esforços de prevenção e combate à violência de gênero, além de reforçar preconceitos que marginalizam povos que enfrentam inúmeros desafios.