
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – A escassez de frutas e o aumento nos preços de ingredientes regionais, como a castanha da Amazônia, além da alta de 180% nos preços do cacau, encarecem entre 8% e 10% os ovos de Páscoa com recheio de frutos amazônicos.
“Realmente, a gente vem sentindo bastante não só o aumento de preço, mas também a escassez de matéria-prima, principalmente da castanha e do cupuaçu. A safra do cupuaçu do ano passado foi muito ruim, tivemos aquele período muito grande sem chuva”, diz Jorge Silva, diretor de marketing da Bombons Finos da Amazônia.
Para manter a oferta de chocolates recheados ao consumidor, fabricantes fizeram parcerias com comunidades ribeirinhas e cooperativas de agricultura familiar. “Então, a gente tem a produção própria de cupuaçu e também tem a produção de agricultores próximos. Fazemos todo esse trabalho para a obtenção de frutas e valorizar os ingredientes locais. Além disso, a gente tem outras plantações como a de açaí, araçá-boi, cubiu e acerola para os nossos recheios”, diz Jorge Silva. A produção da Bombons Finos para este ano é de dez toneladas de chocolates. “Em 2024, produzimos sete toneladas”, revela.
Entre os produtores artesanais de chocolate a oferta do produto diminuiu para a Páscoa. “Em 2024, nós produzimos mais de 400 quilos de chocolate e no mesmo período deste ano não comercializei nem a metade. Tive que baixar minha margem de lucro”, diz Lídia Mota, proprietária da Mercearia do Chocolate.
Os fabricantes alegam que não há comparação entre a produção industrial e a artesanal. “Por exemplo, um ovo de Páscoa de uma marca nacional não contém castanha, contem amendoim que está mais barato do que a castanha. O chocolate regional é elaborado com insumos regionais e com um cacau diferenciado”, diz Jorge Silva.
O preço de um ovo de Páscoa com ingredientes regionais varia de R$ 45 a R$ 220, de acordo com os tamanhos. “E temos também o de 10 quilos, que é gigante, que custa R$ 2.400”, diz Jorge Silva. Esse tipo de ovo é produzido por encomenda, geralmente para empresas.
Mesmo com aumento no custo, os produtores artesanais investem na oferta de ovo de páscoa porque têm público consumidor fiel e que prefere exclusividade. “Os meus principais consumidores são as empresas. Recebo encomendas de empresas e supermercados, e a outra parte comercializo na loja”, diz Lídia Mota.
“A gente faz ovos de Páscoa personalizados, com a marca das empresas. E essas empresas oferecem como forma de brindes para os seus colaboradores, e como presentes para os visitantes”, diz Jorge Silva.
“Noventa por cento dos nossos produtos regionais são comercializados no Amazonas. O chocolate com ingredientes regionais se encaixa bem nessa questão da originalidade e as embalagens com ilustrações regionais também ajudam a aumentar as vendas. O grande foco nosso é essa parte dos presentes”, diz Jorge Silva.
Produto internacional
Segundo Michele Aracaty, presidente do Corecon AM/RR (Conselho Regional de Economia), o cacau é uma commodities (produto primário) que sofre influência do mercado internacional e é afetado também pelas mudanças climáticas.
“A Costa do Marfim e Gana, responsáveis por 70% da produção mundial de cacau, sofreram com períodos de chuvas e secas. O quadro foi agravado pela presença de fungo nas plantações. De 2024 para 2025, o preço do produto sofreu elevação de 190%, impactando no valor do produto final para o consumidor que deseja presentear com o tradicional ovo de chocolate”, diz.
Ainda segundo a economista, a inflação acumulada dos itens da cesta da Páscoa de 2024 para 2025 foi de 5,28%. “Nas últimas Páscoas, observamos o aumento na demanda por produtos artesanais que podem ser confeccionados personalizadamente, atendendo às especificidades. Quanto mais itens adicionados ao produto, maior é o seu preço”, diz.
De acordo com a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim, Balas e Derivados), o mercado do cacau envolve três etapas principais: a produção nas fazendas, a indústria de transformação que processa o cacau e produz os derivados e a etapa final, composta pelas fábricas de chocolate.
Todos os produtos de chocolate devem conter no mínimo 25% de cacau, percentual exigido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que o produto seja classificado como chocolate.