Por Gustavo Uribe e Ricardo Della Coletta
BRASÍLIA – Numa tentativa de se manter no cargo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi na manhã desta quinta-feira, 25, à residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para prestar explicações sobre a ação do Itamaraty no combate à pandemia. O gesto ocorre um dia depois de Lira ter cobrado uma mudança de rumo na atuação do Itamaraty e de o chanceler ter sido fortemente questionado por um grupo de senadores.
De acordo com relatos, Ernesto está ciente da alta temperatura de sua fritura e pediu uma reunião para tentar se justificar. No encontro, o ministro prestou contas do que foi feito até o momento pelo Itamaraty no combate à Covid-19, enquanto Lira, segundo aliados do deputado, reforçou cobrança feita na reunião desta quarta, 24: é preciso uma melhora na diplomacia, com mais diálogo com países como Estados Unidos e China.
A ideia do chanceler é também promover um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para detalhar os esforços da pasta na importação de insumos e vacinas contra o coronavírus.
Lira e Pacheco já vinham manifestando descontentamento com o chanceler brasileiro, aumentando a pressão pela sua demissão. Também nesta quarta, em sessão na Câmara, o presidente da Casa voltou a criticar publicamente e abertamente o chanceler.
Depois, no Senado, a cobrança partiu inicialmente do próprio Pacheco, que afirmou que o fornecimento de vacinas está “aquém do esperado”. Em seguida, diversos senadores questionaram a capacidade do chanceler e pediram sua demissão. “Pede para sair e durma com a consciência tranquila de que o senhor vai ajudar a salvar vidas”, afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Companheiro de bancada da senadora, o tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o Brasil se tornou um pária internacional e que a má gestão no Ministério das Relações Exteriores está provocando resultados fatais para o Brasil. “O senhor não tem mais condições de ficar no Ministério das Relações Exteriores. E não é para criar uma crise [a sua saída], é para solucionar”, afirmou o tucano
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) afirmou que pediria demissão se estivesse no lugar do ministro. Também pediram a saída do ministro a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e parlamentares da oposição.
A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), questionou a capacidade de fazer interlocuções do ministro, após diversos ataques aos chineses. Lembrou, por exemplo, as manifestações contrárias à participação chinesa no leilão da tecnologia 5G.