Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O número de domicílios de Manaus em favelas, conforme pesquisa do IBGE divulgada em 2020, não tem relação com o suposto “fracasso” do modelo Zona Franca de Manaus, afirmam empresários e deputados federais do Amazonas, ao rebater uma matéria do jornal Folha de S.Paulo publicada nesta quinta-feira (14), que mais uma vez ataca o modelo.
Para os parlamentares e representantes de entidades da sociedade civil, a Zona Franca de Manaus alcançou seu objetivo, mas teve que lidar com o alto fluxo de pessoas na capital amazonense em razão do desenvolvimento, que ultrapassou as fábricas do PIM (Polo Industrial de Manaus). Segundo eles, esse movimento impactou no “estilo de moradias”.
Os deputados e empresários também afirmam que, apesar da Zona Franca de Manaus cumprir seu papel, o Amazonas precisa diversificar sua matriz econômica dentro das potencialidades do estado. Alguns dos políticos citaram como exemplo o extrativismo, a agropecuária, o turismo e a mineração.
“Se você quiser falar de favela, o que nós vamos falar do Rio de Janeiro e até mesmo de São Paulo? Então, são cidades falidas? Não. A questão do estilo de moradia da nossa região advém do grande fluxo de pessoas que para cá vieram em busca de uma oportunidade na capital”, afirma Wilson Périco, presidente do Cieam (Centro da Indústria do Amazonas).
A matéria do jornal paulistano usou dados de uma pesquisa sobre conglomerados subnormais – mais conhecidos como favelas, invasões, palafitas e loteamentos – divulgada em maio de 2020 que aponta que, dos 653.218 domicílios existentes na capital amazonense, mais da metade (53,3%) estão nessas áreas.
Para o jornal, a Zona Franca de Manaus “inflou” a população de Manaus de 311 mil habitantes em 1970 para mais de 2,2 milhões em 2020 e não conseguiu cumprir com o seu objetivo de desenvolver a região Norte do país. O periódico relata histórias de profissionais que trabalhavam no Polo Industrial de Manaus, mas foram demitidos e trocaram de profissão.
Périco afirma que o alto fluxo de pessoas para a capital amazonense, inicialmente, foi impulsionado pela busca de oportunidades nas indústrias recém-instaladas na região. Mas, depois, foi motivado por “tudo aquilo que a indústria gera de riqueza na economia” na região. Ele cita que o Polo Industrial de Manaus gera 100 mil empregos diretos e 500 mil indiretos.
O empresário afirma, ainda, que a automação dos processos de manufatura reduziu a demanda de mão de obra na região. “Nós temos que pensar em como garantir a continuidade da geração do número de emprego que faz tanta diferença para nossa população. Isso se dá com a atração de novos investimentos e diversificação da nossa matriz de produtos”, disse.
Para o presidente do Cieam, a região precisa buscar novas alternativas econômicas. “E entra também na questão de desenvolvimento das atividades econômicos além dos muros da capital. Aí não depende do modelo Zona Franca. Estou falando em desenvolver as novas matrizes dentro das potencialidades do nosso estado”, afirmou.
Périco disse que a matéria do jornal é “tendenciosa, má intencionada, de uma maldade muito grande, de uma ignorância e de um profundo desconhecimento”. Segundo ele, o modelo econômico instalado em Manaus é “o maior acerto dos programas de desenvolvimento implementados pelo governo brasileiro”.
Para o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Amazonas), Antônio Silva, a matéria da Folha de S. Paulo trata-se de um “posicionamento desafortunado e inoportuno”, pois, segundo ele, é “nítida” a correlação entre a Zona Franca de Manaus e o desenvolvimento socioeconômico da capital amazonense. “São situações pari passu [em igual passo]”, disse.
De acordo com o empresário, em 1981, 70% dos domicílios em Manaus tinham acesso à água e, em 2015, essa proporção foi para 90%. Para Silva, esses dados apontam que a melhoria de infraestrutura municipal e condições de moradia da população em decorrência do Polo Industrial de Manaus é evidente.
Silva citou que houve impacto positivo na escolaridade do trabalhador e acréscimo na renda dos trabalhadores do Polo Industrial de Manaus. Para ele, “mais uma vez tentam estipular um nexo infundado para enfraquecer o único modelo de desenvolvimento exitoso do país, e sobre o qual resta a principal força motriz da economia local”.
“Fenômeno”
O deputado federal Bosco Saraiva (Solidariedade) afirma que o modelo atraiu pessoas de outras regiões e, com isso, “pressionou a periferia da cidade por moradia e infraestrutura urbana, exatamente motivada pela pujança financeira e econômica proporcionada”. “Aliás, o mesmo fenômeno se dá até os dias atuais com cidades como São Paulo”, disse.
Para o deputado federal Sidney Leite (PSD), o modelo Zona Franca de Manaus é “tão exitoso que mobilizou muita gente para Manaus” na busca por oportunidades de emprego. “É só ver o crescimento de Manaus nos últimos 40 anos. Uma explosão demográfica”, disse o parlamentar.
Leite, entretanto, alerta para a falta de outras matrizes econômicas. “Não podemos viver só do modelo Zona Franca. Nós precisamos de outras políticas de desenvolvimento econômico. O modelo Zona Franca permite ao estado uma arrecadação significativa. É só ver o que está acontecendo este ano, nós teremos um recorde do recorde de faturamento”, disse Leite.
“Quantas políticas de desenvolvimento econômico o governo do estado tem trabalhado? Eu comparo o governo ao filho de pai rico, que não se preocupa, só gasta, e tem gasta muito mal. Então, nós precisamos investir na agricultura familiar, pois o nosso perfil é agricultura familiar e criação de animais”, completou Leite.
Para Leite, o governo estadual deve investir na questão mineral para avançar na diversificação do modelo econômico. “Nós temos uma grande contradição. Com toda a receita do estado, Manaus sempre está entre o 6º e 8º PIB do Brasil, mas o Amazonas é o terceiro colocado em pobreza. 59,7% da população está abaixo da linha da pobreza”, disse.
O deputado cita o minério e o setor primário como gancho para alavancar a economia local. “Nós não precisamos desmatar. O que nós já temos desmatado garante uma produção pelo menos autossuficiente para se sustentar e nos alimentar. E a gente gera emprego fora, renda fora porque não temos política de desenvolvimento aqui”, completou Leite.
Alberto Neto (Republicanos) afirma que dizer que a Zona Franca de Manaus não levou progresso à capital amazonense é “desconhecer a realidade do antes e depois da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Ele diz que o projeto que começou em Manaus em seus 54 anos se estendeu aos estados do Amapá, Acre, Rondônia e Roraima.
O parlamentar cita que antes da criação da Zona Franca de Manaus o PIB do Amazonas era menos de 0,4% do PIB Nacional e que, atualmente, alcança 1,46%. Além disso, segundo ele, não havia nenhuma indústria de transformação na capital amazonense. Atualmente, há 2.055, gerando 165 mil postos de trabalhos diretos.
Alberto afirma que a UEA (Universidade do Estado do Amazonas) foi criada a partir de recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Zona Franca de Manaus. “Suas atividades acadêmicas tiveram início no dia 3 de agosto de 2001 e, em 30 de junho de 2005, como resultado socioeconômico da Lei de Informática da ZFM”, disse.
O deputado citou que a universidade tem mais de 30 mil estudantes regularmente matriculados na graduação e, também, na pós-graduação. “É a maior universidade multicampi do país, ou seja, é a instituição de ensino superior brasileira com o maior número de unidades que integram a sua composição”, afirmou.