Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – Sem capital de giro para manter as empresas funcionando em momento de crise, os associados da Abrasel (Associação Brasileira e Bares e Restaurantes) ameaçam demitir 10 mil pessoas. Em janeiro, eles começaram a dar férias coletivas aos funcionários e alegam que não conseguem manter os empregos, mas condicionam as demissões à flexibilizações dos decretos estaduais que proíbem o funcionamento do setor.
Antes da pandemia, o setor empregava 80 mil pessoas e a Abrasel estima que pelo menos 32 mil tenham sido demitidas desde março de 2020, quando os primeiros casos foram identificados no Amazonas. Considerando setores de bares e restaurantes, a Abrasel afirma que o estado tem 13 mil empresas passando por prejuízos financeiros.
Segundo o presidente da Associação, Fabio Cunha, a decisão de demitir os funcionários é uma necessidade e não uma pressão pública para o governador Wilson Lima reabrir o setor. “Não nos resta uma solução se não as demissões. Não é uma pressão ao governador, é um fato real, nós não temos mais o que fazer a não ser demitir. Não temos como sustentar as pessoas com empresas fechadas”, disse.
No entanto, Cunha afirma também que as demissões podem ser evitadas. “Queremos pelo menos uma data para retorno, desse jeito, a cada sete dias uma surpresa, não tem como se planejar. Nós estimamos que 10 mil pessoas serão demitidas se o decreto continuar dessa forma”, disse.
Segundo Cunha, a pandemia atingiu severamente o setor fazendo com que empresários fizessem empréstimos, usassem linha de crédito e qualquer capital de giro guardado.
Em 2020 o setor de bares e restaurantes passou por flexibilizações junto ao comércio. Em 15 de junho o setor reabriu com medidas de restrições, envolvendo capacidade máxima de lotação, exigências no uso de álcool em gel e máscaras aos clientes. Em setembro o governo decretou o fechamento, após aumento de infecções. O setor voltou a reabrir em dezembro.
O professor Maurício Brilhantes, doutor em administração pública, afirma que as medidas de demissões e encerramento de contratos são consequências da crise que todo o setor econômico passa no país.
“De certa forma mesmo com essa restrição, os restaurantes não ficaram sem funcionar, mas estão precisando se reinventar. Isso diminui a produção deles? Sim, ficam com capacidade limitada, então precisam diminuir os recursos. Alguns restaurantes vão encerrar contratos de aluguel, tomar decisões de investimento em outro pontos. É um drama, uma situação complexa. É difícil apontar um setor que não esteja passando por uma situação complexa”, disse.
Brilhantes, que é professor de administração da Ufam (universidade Federal do Amazonas) aconselha que os empresários tenham paciência e solidariedade.
“O impacto neles é muito rápido, mas também quando as coisas melhoram, melhoram pra eles muito rápido. Gradualmente os decretos estão liberando mais atividades, gradualmente as coisas devem começar a funcionar, seguindo regras de higiene. Cada vez que eles liberam, são mais pessoas fora de casa que vão precisar comer na rua. Então tenhamos paciência, solidariedade, temos quase dez mil mortos”, disse.