Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Presa na noite da última terça-feira, 10, por suspeita de compra de votos a favor do candidato a prefeito de Manaus Ricardo Nicolau (PSD), a empresária Márcia da Cruz Gordinho negou em entrevista ao ATUAL na manhã de sexta-feira, 13, que tenha praticado crimes de corrupção eleitoral e afirmou que a gratificação de R$ 80 a participantes de sondagens é comum em todo o Brasil.
“Trazer oito pessoas para minha empresa e dar lanche para comprar o voto delas seria uma imbecilidade. O prédio está cheio de câmeras. Se era compra de votos, por que as oito não foram presas? Só saíram daqui com mandados de prisão eu e mais outros três”, afirmou Márcia Gordinho, que é dona do Cepam (Centro de Estudo e Pesquisa da Amazônia).
Além da empresária, a Polícia Federal prendeu em flagrante Rodolfo Vieira Pinto, Maria dos Prazeres dos Santos e Victor Ramos de Carvalho no Edifício Atrium, bairro São Francisco, zona centro-sul, onde a empresa realiza as atividades. Os policiais federais afirmam que constataram a entrega de envelope com R$ 80 a eleitores que participavam de um encontro na sala do Cepam.
Rodolfo Pinto é dono da empresa Ideias, Fatos e Texto Ltda., com sede em Brasília; Victor de Carvalho se identificou aos policiais como marqueteiro e disse que presta serviços a Rodolfo; e Maria dos Santos afirmou que é prima de Márcia Gordinho e que foi chamada apenas para ajudar servindo lanches aos participantes da reunião.
No Inquérito n° 0146/2020-4-SR/PF/AM, os policiais informam que a reunião estava sendo “conduzida por pessoas contratadas para promover a campanha do candidato a prefeito de Manaus Ricardo Nicolau”. Segundo os agentes, os quatro confirmaram que haviam entregue lanches e um envelope com dinheiro de “agradecimento” para os participantes da reunião.
Nesta sexta-feira, 13, Márcia Gordinho afirmou que o Cepam presta serviços de recrutamento e fornece infraestrutura para as pesquisas qualitativas feitas pela empresa Ideias, Fatos e Texto Ltda. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a empresa de Rodolfo Pinto é contratada pela campanha de Nicolau por R$ 400 mil.
O Cepam realiza o recrutamento das pessoas que participam da sondagem da Ideias, Fatos e Textos Ltda através de uma terceira empresa, a MR Pesquisas. Os participantes são selecionados de acordo com o perfil de entrevistado buscado pela empresa de Brasília e esse filtro ocorre através de um questionário aplicado nas ruas e nas casas.
De acordo com Márcia, a reunião, previamente agendada, ocorre na presença de um moderador. Os participantes respondem a questões referentes ao objeto da pesquisa e as informações levantadas tem objetivo de melhorar a campanha publicitária de uma marca ou de um candidato.
“Dependendo do tipo do serviço, a gente traz o público alvo da pesquisa. Por exemplo, se eu quero tratar sobre carros de uma determinada marca, como já teve aqui, a gente recruta ou eles contratam institutos de fora para recrutar – eles querem estrutura – pessoas que tenham determinada marca de carro, dependendo do objetivo da pesquisa”, disse Márcia Gordinho.
A empresária reafirmou que o Cepam distribui lanches e paga uma gratificação aos participantes de cada pesquisa, cujo valor varia conforme a classe social. Ela disse que o candidato Ricardo Nicolau nunca participou de reuniões na sala do Cepam no Edifício Atrium e nunca teve contato com os entrevistados.
De acordo com Gordinho, as gratificações a participantes são comuns e que “não existe uma outra forma de atrair uma pessoa para responder uma pesquisa”. “A pessoa não vai para um determinado local sem ter algum benefício. É difícil até de responder na rua. A gente pede por favor para responder um questionário. Agora, imagina a pessoa ter que sair da casa dela para vir para cá”, afirmou.
Eleições
A empresária afirmou que nas eleições os marqueteiros não informam qual o candidato que está contratando o estudo. “A gente recruta as pessoas e não diz para quem é porque não interessa para quem é. O que interessa é que eles vão assistir a um programa e vão avaliar. Se a gente disser, o nosso trabalho não vai ser bom porque vai dar um viés”, disse Gordinho.
“Você não pode dizer quem é porque senão enviesa o resultado da pesquisa, pois a pessoa só vai falar coisa boa e não é isso que a gente quer. A gente quer que ele fale o que ele está sentindo, o que ele realmente pensa. E isso não sai nas quantitativas. Só sai nas qualitativas”, afirmou a empresária.
Consta no auto de prisão em flagrante, anexado ao inquérito policial, que os policiais abordaram um motorista chamado Carlos Alberto Teixeira, que estava no estacionamento do edifício, e o homem informou que foi ao local levar Vitor Ramos de Carvalho, que se identificou como marqueteiro. Na mala do carro, os agentes encontraram material de campanha de Nicolau.
De acordo com o delegado federal Fábio Pegado, que conduziu a ação no Edifício Atrium, o motorista confirmou os fatos, e o delegado, entendendo estar configurada a “situação flagrancial”, deu voz de prisão às quatro pessoas sob alegação de “prática do crime de corrupção eleitoral”. Os quatro foram levados para a delegacia e pagaram fianças que somam R$ 32 mil.
Márcia Gordinho relata que no dia da ação os policiais vasculharam o ambiente e não encontraram nenhum material ilícito. A empresária disse que os policiais levaram equipamentos e documentos do Cepam. “São meus equipamentos de trabalho. Eles estão cerceando meu trabalho. Eles levaram tudo. Esse escritório estava fechado”, disse a empresária.
Sobre a terceirização de empresa para fazer recrutamento, Gordinho disse que hoje em dia os institutos de pesquisas estão se qualificando em áreas específicas. “Por exemplo, lá em São Paulo existe empresas só de recrutamento. Existe empresa que tem os cientistas. Hoje em dia os cientistas contratam as empresas, pois eles não vão ter uma sala em cada local do Brasil”, disse.
Márcia também alegou que, devido as pesquisas serem sazonais, a contratação de profissional de carteira assinada “sai mais caro”. “Essa pessoa que recruta pra mim até abriu a empresa só para fazer esse tipo de trabalho. Eu contrato ela e o recrutamento dela é sobre minha supervisão”, disse Gordinho.
O deputado federal Marcelo Ramos (PL) usou o Twitter na quinta-feira, 12, para defender a empresária. “No Edifício Atrium funciona o escritório da Márcia Gordinho onde eu mesmo já fiz várias pesquisas qualitativas, nelas os pesquisados recebem uma ajuda de custo. Confundir isso com compra de votos é uma irresponsabilidade. A PF já foi mais cuidadosa nas suas ações”, escreveu Ramos.
Também na quinta-feira, a Coligação Pra Voltar a Acreditar repudiou a “criminalização do trabalho de um instituto de pesquisa”. “Como é prática mundial, nas pesquisas qualitativas não há indução e muito menos pedido de votos”, diz trecho de nota enviada para os jornalistas.
“Qualquer informação diferente disso trata-se de uma notícia mentirosa, uma ‘fake news’ fabricada às vésperas da eleição para tentar influenciar o eleitor contra o candidato que mais cresce nas pesquisas e ameaça o grupo que está há mais de três décadas no poder na prefeitura de Manaus e no governo do Amazonas”, afirmou a coligação.
A aliança liderada por Ricardo Nicolau afirmou que “rechaça e repudia a confusão de que foi vítima e informa que está atuando junto à Justiça Eleitoral e à Polícia Federal a fim de restabelecer a verdade e evitar que essa ação anônima siga tentando macular a credibilidade e idoneidade de nossa campanha”.