Da Redação
MANAUS – Aliado à medicina, serviços sociais são um conforto no tratamento de pacientes acometidos por Covid-19 e um amparo aos familiares em Manaus.
A especialista em gestão pública Viviane Alves Dutra é experiente na função. Subcoordenadora de projetos sociais da Unidade Gestora de Projetos Especiais do Governo do Amazonas, ela comanda uma equipe de assistentes sociais e psicólogos na linha de frente na capital.
O trabalho é prestado em tendas na frente dos grandes hospitais e unidades do Serviço de Pronto Atendimento (SPA). “Foi um processo muito humano, para toda a equipe ficou esse sentimento de que esse trabalho transcendeu o que é a experiência profissional”, disse.
“Nós tivemos uma experiência realmente de vida, de humanidade. A gente vivenciou muito o ‘adeus’, o ‘eu te amo’. A gente vivenciou muitas coisas, muitos pedidos de perdão. O que fica de aprendizado para mim é isso, precisamos ser mais humanos”, relata Viviane.
Medo e conscientização
Na guerra contra o coronavírus, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem admitem sentir medo de contágio, mas consideram a pandemia uma oportunidade para se reeducar e sensibilizar.
“A sociedade tem que tirar isso como uma grande lição. Os profissionais se reinventando, estudando, se preparando de forma técnica, científica para trabalhar com os pacientes graves, com as complicações”, diz enfermeiro Bruno Enock, que atua em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
“Existem muitos medos, mas ainda há esperança de que tudo isso possa se reverter, que a gente possa se reeducar, que a sociedade possa se sensibilizar”, completa.
Segundo Bruno Enock, conviver com morte de amigos e sofrimento de familiares reforça o sentimento de humanidade. “Já perdi muitos amigos, de jovens a mais idosos, acometidos pela pandemia. Já chorei, já sorri com as altas, já bati palma, já me entristeci. Nós conseguimos melhorar como pessoa, dando valor ao próximo, fazendo as coisas com mais amor, mais paciência. A partir do momento em que imaginamos que poderíamos ser nós naquele lugar, naquele leito, ou um ente querido, a gente consegue ter esse pensamento e consegue melhorar”, disse.
A adaptação à pandemia, que rompeu com a rotina, também é um aprendizado para os professores. “No nosso caso, na educação, eu vejo que o maior desafio foi tocar esse aluno não estando de frente com ele, ou não estando conectado com ele. Aprender, superar, inovar, foram palavras que nós tivemos que adaptar”, diz a professora Petty Ribeiro. “Como professores, nós sabemos que a escola é um ambiente extremamente necessário para nós e para eles. E muitas vezes é o único ambiente que eles têm de esperança”. Petty Ribeiro lesiona História pelo programa “Aula em Casa”.
Oxigênio
Policiais também relatam momentos de emoção em ações de segurança na pandemia. O delegado Juan Valério, coordenador do Fera (Grupo Força Especial de Resgate e Assalto), diz que presenciou situações fora da rotina.
“É um trabalho que nós nunca pensávamos que iríamos fazer. Quando eles (parentes de pacientes) viram a nossa viatura de longe, começaram a vibrar e gritar muito, muitas pessoas se ajoelhavam. Foi uma comoção muito forte. Eram muitas orações, pessoas querendo se ajoelhar, pessoas querendo nos abraçar”, lembrou, ao relatar a escolta de cilindros para os hospitais.
Até profissionais com larga experiência no trabalho de assistência social se surpreenderam com ações na pandemia. É o caso de Celso Ventura, diretor do Grupo Suçuarana, organização com 11 anos de atuação em Manaus.
“São momentos que ficarão marcados na minha mente, no meu coração, para o resto das nossas vidas. Eu acho que a maior lição que nós estamos tendo, nesse momento, é a questão da humanidade, que estava deixada de lado por todos nós”, disse.
Registrar esses momentos para expô-los à opinião pública também é uma experiência única, segundo o repórter cinematográfico Edson Aqui, da Secom (Secretaria de Estado de Comunicação Social). “É um ano atípico esse meu último ano, uma coisa completamente diferente de tudo que eu já passei. A gente está lidando com uma pandemia que eu nunca tinha visto. Uma pandemia em que a gente não consegue se abraçar, a gente não consegue se beijar, a gente não consegue nada”.
“Eu acho que a maior lição que nós temos que tirar é de que nós temos que ter consciência de que a gente não consegue viver sozinho, nós precisamos uns dos outros”, afirma.