Por Rosiene Carvalho, da Redação
MANAUS – Em crise com o PT no Amazonas após confirmação de candidatura de José Ricardo em todas as instâncias do Partido dos Trabalhadores, o PCdoB pode aderir à candidatura do senador Eduardo Braga (PMDB) ao Governo do Amazonas na eleição suplementar de agosto. Comunistas se sentiram alijados do processo de construção da candidatura que representasse a esquerda no Estado.
Em meio a esta questão, o diretório estadual do PCdoB definiu, no último final de semana, as diretrizes da sigla para o pleito suplementar. Foram estabelecidos três parâmetros que vão nortear os rumos da sigla. O primeiro é “não reforçar a pulverização de candidaturas”, que no entendimento da sigla “só fortalece quem já está no poder”. Ou seja, não farão caso para candidatura própria, podendo apenas se aliar a outro nome.
O segundo é participar da criação de uma “frente ampla eleitoralmente viável para derrotar o grupo que está no governo”. A candidatura que o PCdoB vier é apoiar deve ser de um candidato que reúna outros partidos políticos que deem ao nome apoio político para uma disputa com chance de vitória.
O terceiro parâmetro do PCdoB é não se aliar a grupos políticos que sejam a favor das reformas trabalhista e previdenciária encampada pelo Governo Temer.
“O PT cumpriria a questão sobre as reformas, mas o José Ricardo eleitoralmente é viável e capaz de derrotar o grupo que está aí? Ele precisa responder isso (…) Não estamos aqui para ser trampolim de ninguém”, afirmou Eron Bezerra, presidente estadual do PCdoB.
Eron disse não excluir o PMDB de Braga, de quem foi aliado durante o Governo do Estado, numa aliança nas Eleições 2017. “O PCdoB não se aliança automaticamente com ninguém, que fique claro. É preciso verificar as conveniências políticas, estratégicas e táticas”, disse.
Ao ser perguntado se já havia uma conversa com o PMDB, Eron Bezerra respondeu: “Já fizemos [conversa] prévia, como fizemos com o PT”, disse.
O presidente estadual do PCdoB afirmou que as convergências nacionais não geram comunhão estadual automática entre os partidos. “Embora aliados nacionalmente, aqui no Amazonas nunca tivemos (PT e PCdoB) relação de aliança. Cada um sempre teve sua própria agenda. Quando convergiu, coligamos com o PT”, disse.
Eron sinalizou ainda que o partido não deve aplicar extremismos de ideologia na aliança para as eleições suplementares. O fato de Braga não ter votado a favor de Dilma Rousseff (PT) no impeachment foi usado como argumento para justificar adesão ao PT em 2016, além do senador ter apoiado a candidatura tucana na eleição municipal.
“Só se alia quem pensa diferente, quem pensa igual está dentro do mesmo bloco do mesmo partido. Quem tem medo de se aliar é porque não têm confiança nas suas convicções. Sofre uma pressão e já muda. Essa coisa de golpista e não golpista… Só nós e um pedaço do PT pensamos assim. Metade da Rede votou a favor desta esculhambação que virou o País”, disse.
A ideologia e os votos da esquerda
A eleição suplementar será realizada no dia 6 de agosto e, em caso de segundo turno, no dia 26 de agosto. O pleito suplementar ao de 2014 foi marcado pelo TSE em função da cassação do mandato do governador José Melo (Pros) e do vice-governador Henrique Oliveira (Sdd) por compra de votos.
Os três parâmetros estabelecidos pelo PCdoB para o projeto político dão maior vantagem a Braga que a José Ricardo nesta eleição suplementar. Essa sinalização ocorre oito meses após PT e PCdoB fazerem uma campanha de certa forma vitoriosa com a dobradinha José Ricardo (PT) e o líder estudantil Yann Evanovick (PCdoB). Sem Vanessa ou Eron nas cabeças, terminaram a disputa com 113.930 votos.
A união das siglas há oito meses criou uma expectativa de reunir um bloco de esquerda no Amazonas. Mas abraçar completamente a esquerda, no Amazonas, pode não ser projeto viável aos planos dos comunistas para 2018.
Além da falta de diálogo entre os “recém-aliados”, no próximo ano termina o mandato da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), eleita em 2010 com forte apoio de Braga, e derrotada em 2012 por Arthur Neto (PSDB), mesmo com o apoio do Governo Federal na sua campanha.
Nacionalmente, o PT tem buscado a viabilidade política, após os abalos do impeachment e das investigações da Lava Jato, por meio da popularidade do ex-presidente Lula e da imagem negativa do Governo Temer. Muitos parlamentares de esquerda surfam nesta mesma onda.
Ocorre que, peça importante no projeto nacional da esquerda e na resistência de defesa dos direitos dos trabalhadores, a senadora Vanessa Grazziotin não conseguiu, até agora, a aprovação de quem no Estado reprova o Governo Temer. Prova disso foram as vaias contra ela no ato em adesão à Greve Geral, em Manaus, no dia 28 de abril.
A senadora Vanessa está dentre os políticos brasileiros que sabem fazer boas escolhas.