EDITORIAL
MANAUS – É natural e prudente que um prefeito que queira concorrer à reeleição no Brasil segure o quanto puder o start para a disputa eleitoral. Caso contrário, não terá sossego até a eleição. E no jogo político pode mais perder do que ganhar.
Em Manaus, David Almeida (Avante) tenta segurar, mas os adversários o têm chamado diariamente para a arena. Durante as comemorações do aniversário de Manaus, em 24 de outubro, o prefeito e o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, Roberto Cidade (União Brasil), trocaram insultos na internet. Ali pode ser considerado o início da antecipação da disputa de 2024.
Cidade criticou obras realizadas pelo prefeito e recebeu de David o seguinte revide: “Quem estiver pensando em política, não está trabalhando […] Política é ano que vem. Quem estiver pensando em política está vagabundando” (…) “Só vou falar de política depois do carnaval. Até lá há muito a fazer pela cidade”.
A faísca evoluiu. Quinze dias depois, a Câmara Municipal de Manaus botou lenha na fogueira ao rejeitar um projeto de lei em que David Almeida pedia autorização para emprestar R$ 600 milhões, dinheiro que o prefeito quer usar em obras como asfaltamento de ruas, construção de creches e praças entre outros.
É importante dar um passo atrás e voltar a 2022: Na eleição para governador, David Almeida se aliançou com Wilson Lima (União Brasil), que disputava a reeleição, e coube ao prefeito a indicação do vice na chapa. Depois de muito suspense, indicou o procurador Tadeu de Souza (Avante).
O acordo era que em 2024 Wilson Lima apoiasse a reeleição de David Almeida. Em dezembro passado, os dois se reuniram e mantiveram a promessa de pé.
Mas em política, acordos em período eleitoral são feitos não para serem cumpridos, mas descumpridos. Historicamente tem sido assim no Amazonas. Como sugere o título do livro de Marshall Berman, “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”.
Até abril deste ano, David Almeida dizia que a relação com Wilson Lima estava “100% alinhada”, mas já havia sinais de que a relação entre os dois havia azedado.
Até aquele momento, Governo do Amazonas e Prefeitura de Manaus mantinham programas conjuntos, como o Asfalta Manaus, o Passe Livre Estudantil e a reforma de feiras e mercados.
O Asfalta Manaus foi descontinuado, motivo pelo qual David Almeida precisa do empréstimo de R$ 600 milhões, negado pela Câmara Municipal em votação apertada.
Nesta segunda-feira, o governador Wilson Lima, o presidente da Assembleia, Roberto Cidade, deputados e vereadores estiveram na comunidade Coliseu, na zona leste de Manaus, para dar início à pavimentação das ruas. “É o nosso Asfalta Amazonas”, disse o governador.
Esse programa vinha sendo realizado nos municípios do interior do Estado, mas na capital, com a parceria com a prefeitura, ganhou o nome de Asfalta Manaus. Agora, é o governo estadual que assume o serviço na capital.
Cidade tem aproveitado as oportunidades, dá pinta de candidato a prefeito e vem arregimentando apoios, inclusive de vereadores que antes eram da base de David Almeida. E hoje ficou claro que tem o apoio do governador.
Sem falar em eleição, David Almeida tem reagido, com discursos inflamados em eventos da prefeitura. No fim de semana prometeu levar os nomes dos vereadores à população para informar quem está votando contra ela na Câmara Municipal.
Daqui para a frente, a tendência é que o processo eleitoral tome corpo e os ânimos fiquem cada vez mais acirrados. Outros candidatos e outros grupos serão obrigados a entrar no jogo se quiserem ter alguma chance. O ano de 2024 promete.