Por Rosiene Carvalho, da Redação
MANAUS – Com quadro de alianças indefinido e risco de pernadas de última hora, a maioria dos partidos marcaram as convenções para os 45 minutos do segundo tempo. À exceção do PPS, que deve realizar a convenção nesta quarta-feira, 14, todas as demais siglas vão realizar a reunião que oficialmente define os nomes dos candidatos na sexta-feira, 16.
Apenas o partido de três pré-candidatos marcaram a convenção em locais amplos, com possibilidade de participação de grande número de pessoas: o PMDB do senador Eduardo Braga, o PRB do deputado federal Silas Câmara e o PHS do presidente da Câmara Municipal de Manaus, Wilker Barreto.
Braga é o líder das pesquisas, Silas aparece bem nas sondagens em função do recall dos mais de cem mil votos que recebeu em Manaus nas Eleições 2016 e Wilker é o pré-candidato que aparece com menor intenção de votos nas pesquisas divulgadas até agora.
Todos os demais partidos marcaram a convenção nas suas sedes, sendo que uma das siglas mais importantes do processo político, o PSD não tem até hoje horário definido para a convenção. O PSD abriga o governador interino David Almeida e o senador Omar Aziz, líder político do grupo.
O nó entre as siglas é tão grande que muitos líderes já admitem que o jogo terá prorrogação para além dos “90 minutos”. É que o prazo de convenção é sexta-feira, mas como é usada pelos partidos como mero ato formal para cumprir exigência da lei, cogitam que as negociações podem se estender pelo final de semana.
O registro de candidatos pode ser feito até às 19h de segunda-feira, 19. Até lá a ata da convenção pode ser “editada”.
“Eles” resolvem
O presidente estadual do PDT de Amazonino Mendes, Stones Machado, ao ser questionado sobre quais outras siglas fariam a convenção junto com o PDT disse que isso está sendo resolvido por “eles”.
Stones disse que neste momento de reta final da definição das alianças não pode falar nada porque as possibilidades de mudanças são grandes. “De manhã é uma coisa, de tarde outra, de noite outra e de madrugada é tudo diferente”, disse.
O vereador e pré-candidato Marcelo Serafim (PSB), que já recebeu o apoio do PMN, disse que não pode adiantar com quais siglas mantém conversas para adesão à sua chapa. “Neste momento, prejudica”, explicou.
O PSB de Marcelo estava sendo namorado pelo PR e pelo PT nos últimos dias. Marcelo disse que a definição do partido sobre candidatura própria é irreversível. “Nossa candidatura foi definida pela direção estadual. É viável e só depende da gente. Temos 45 segundos de tempo de TV”, disse.
O secretário-geral do PP, Valter Sipeli, confirmou a pré-candidatura de Rebecca Garcia, mas admitiu que há negociações em curso até sexta que podem apresentar quadro diverso ao PP. “Está todo mundo conversando”, disse.
Ao ser questionado sobre a convenção, Marcelo Ramos, que visitou mais de seis municípios no último final de semana e esta semana não vai arrastar o pé da cidade, disse: “Vocês saberão a coligação às 10h do dia 16”.
Nem mesmo o único que tem chapa definida com vice, Silas Câmara, fechou questão. Silas afirmou que o canal de diálogo e construção de uma aliança mais ampla para esta eleição está aberto. Neste contexto, Silas admite que as conversas estão mais avançadas com o PR em função de uma identificação maior com Marcelo Ramos.
Convenção ou faz de conta?
O período de convenção, segundo o professor de Direito Eleitoral do Ciesa e analista jurídico da justiça eleitoral, Leland Barroso, deveria funcionar para que os membros do partido debatessem e definissem interna e publicamente o nome de candidatos e as possíveis alianças para aquele pleito.
O objetivo de debate interno entre todos os membros – com mandato ou não – é o foco, porque a legislação prevê, inclusive período para campanha interna dos pré-candidatos, segundo o professor. “Esse processo não ocorre em nenhum partido”, disse.
Os prazos bem mais curtos desta eleição suplementar colocaram em evidência que no processo de escolha de candidato e aliança partidária a vontade de caciques políticos, até de fora da sigla, tem peso maior do que o – praticamente inexistente – debate interno dos partidos.
A confusão dos partidos liderados pelo senador Omar Aziz mostra esta situação.
Mas essa forma de fazer política não é invenção desta eleição. Em 2012, por exemplo, a convenção para anúncio do nome de Rebecca Garcia (PP) como candidata a prefeita de Manaus e Marcel Alexandre (PMDB) como vice estava pronta, com faixas e cartazes com a foto dos dois e foi abortada a poucas horas do evento.
De madrugada Rebecca havia anunciado a desistência da candidatura após pressão de Eduardo Braga que, na ocasião, não aceitou que Omar Aziz, então governador, indicasse o nome do grupo.
A socióloga e doutora em Sociedade e Cultura pela Ufam, Márcia Oliveira, afirmou que essa demonstração de indicações de poucas cabeças de candidatos nas eleições é reflexo do desrespeito ao que está previsto na legislação.
Márcia defende que os membros do partido e a própria sociedade cobrem que todo o processo que envolve escolha de candidatos e atos dos partidos fosse público para que o processo seja o mais democrático possível.
“A legislação é recente de 1997 (…). Cabe aos membros, aos meios de comunicação e às mídias cobrarem que a legislação seja respeitada e denunciar estas questões”, disse.
Márcia Oliveira disse ainda que a forma de realizar convenções, onde as pessoas que estão presentes sequer sabem a forma como os candidatos foram escolhidos e o que foi negociado, é uma questão que ajuda a explicar o quadro atual dos partidos políticos do País. “Vou usar uma palavra forte. Mas as pessoas banalizam esse processo”, disse.