
O Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES – promoveu entre 15 e 17 de outubro um seminário sobre Educação Popular, visando contextualizar a pedagogia de Paulo Freire (1921 – 1997) no meio amazônico. Reconhecido mundialmente pela sua contribuição no entendimento da educação como instrumento de libertação e humanização, Freire é o Patrono da Educação Brasileira e inspira a muitos pedagogos, intelectuais e lideranças na busca de uma sociedade justa e solidária.
O seminário trouxe muitos ensinamentos do educador, renovando a esperança dos participantes neste tempo de pandemia em que os principais líderes políticos do Brasil se omitem diante da tragédia causada pela covid-19 e muitos outros ainda agem com irresponsabilidade perante a obrigação de cuidar da saúde do povo brasileiro. Nesse sentido os ensinamentos de Paulo Freire adquirem uma tônica de denúncia e ao mesmo tempo solidariedade.
No território amazônico em que é visível um contexto de pluralismo ético e cultural, o mencionado pensador instiga a atitude de respeito aos diferentes povos e culturas, sugerindo que a Educação deve estar sintonizada com a diversidade de valores, estilos de vida e compreensões da realidade numa permanente troca de experiências e conhecimentos.
O pensamento de Freire valoriza os conhecimentos da região amazônica, impulsionando a criação de redes de sustentabilidade entre os diversos atores locais que buscam manter a integridade do território e promover a dignidade dos povos e do meio ambiente. Nesse sentido é essencial que haja uma mudança na relação entre a sociedade e a natureza, visando uma atitude de cuidado e preservação.
Valorizando os conhecimentos nativos que foram gerados em forte interação com o meio ambiente, as elaborações do Patrono da Educação sugerem a ruptura da mentalidade colonialista que é imposta de cima para baixa e de fora para dentro causando a destruição da região e colocando em perigo a vida local e planetária. A pirataria de conhecimentos e da biodiversidade promovida por grandes empresas transnacionais é outro elemento que não tem espaço na educação popular, pois não traz nenhum beneficio para a população do lugar e a subordina a interesses alheios.
A educação popular promove o engajamento político da população, pois este é o espaço das decisões de grande repercussão e oportuniza o protagonismo da população na construção de uma sociedade justa e sustentável. Trata-se da boa política, que reforça a democracia e o poder popular, visando eliminar ações e atitudes autoritárias, genocidas e intolerantes. Tal modelo de educação resgata a importância das culturas indígenas criando emancipação e evidenciando modelos econômicos alternativos que respeitam o meio ambiente e dialogam com as reais necessidades das comunidades.
Para Freire, o pilar de todo processo educativo é o amor, pois ele abre o ser humano ao diálogo, à solidariedade para com os oprimidos, incentivando ações que promovem a vida, a transformação social, a dignidade e a autonomia dos sujeitos. Este amor se rebela contra a destruição e rechaça a mentira e a manipulação. Esse amor libertador ressalta que o homem é um ser social e ambiental.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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