Da Redação
MANAUS – Defensora da liberação do uso de drogas para fins terapêuticos, a candidata à senadora Marília Freire (Psol) disse que o assunto é tratado com hipocrisia no Brasil. Questionada sobre a resistência ao tema no Congresso Nacional, Marília afirmou que “o que tem de parlamentar que é usuário de drogas não está no gibi, gente”. A candidata encerrou o ciclo de entrevistas do ATUAL nesta sexta-feira (9).
“E a gente fala de droga e aí a pessoa vem logo na cabeça dela: maconha e cocaína. Mas o álcool também é droga. Cigarro também é droga. Só que estão legalizadas, estão reguladas”, disse. Marília afirma que no Brasil as drogas liberadas são escolhidas. “Na minha perspectiva, as drogas que não estão liberadas, é por pura hipocrisia”.
“Tem impostos, tem campanha para você não fumar. As embalagens de cigarro vêm com vários informes sobre câncer. Vários critérios de proteção desse consumidor são feitos no Brasil. Você tem a propaganda de cerveja e tem lá uma observação, que todo excesso pode causar danos”, disse a candidata.
Formada em Direito, servidora pública concursada do TJAM e estudante de Psicologia, Marília Freire disse que a política de combate às drogas no Brasil atinge majoritariamente a parcela mais vulnerável da população.
“Penso que a guerra às drogas hoje no Brasil, quem está ganhando essa guerra são as drogas. Nós temos no Brasil um Código Penal que é de 1940. Estamos há 82 anos com o mesmo Código e já mudamos muito enquanto sociedade. A politica de drogas hoje é usada para encarcerar gente pobre e gente negra. Existe um genocídio da juventude negra”.
A candidata aponta duas saídas para mudar essa realidade. “Eu penso que a gente precisa construir alternativas a essa política, que não seja primeiro o cárcere para quem é usuário. O segundo ponto é que pessoas que precisam ter acesso à cannabis para fins terapêuticos não têm acesso, e precisa ter”.
Para Marília defende uma ligalização gradual das drogas, mas afirma que legalizar a venda e o consumo de drogas diminuirá o gasto do Estado em quatro frentes e possibilitará aumento de receita com a venda dos produtos, que poderia ser usada para em campanhas de conscientização e prevenção.
“A gente gasta hoje com polícia para repressão às drogas, vigilância da fronteira, com presídios, que no Amazonas são 100% privatizados, e com a movimentação da Justiça para prender pequenos traficantes. Quando a gente junta tudo isso com aquilo que a gente não arrecada, quando a gente não regula a venda, o Estado perde em arrecadação de impostos”.
“Quando isso passar a ser um produto, passa a ser um comércio, o Estado vai ganhar financeiramente com isso e vai deixar de gastar nesses quatro campos que eu estou dizendo [polícia, fronteira, presídios e movimentação da Justiça] e poder ter recursos para investir em outras coisas que são importantes inclusive para ajudar essa juventude a não entrar nesse caminho”, completou.
Comportamento do eleitor
Pela primeira vez na disputa de um cargo eletivo, Marília Freire disse que é muito questionada, até por outros candidatos, sobre porque começar pelo Senado Federal.
“Acredito muito que o povo do Amazonas está sedento de um nome, de um novo rosto e de um projeto que seja também diferenciado. Nós não temos grandes recursos, a nossa campanha não é uma campanha milionária como a da maioria dos outros candidatos. Nós estamos estreando nessa caminhada, mas a gente também é muito seguro das nossas propostas, do que a gente quer nesse lugar, do que a gente quer fazer pelo povo do Amazonas enquanto senadora”, afirmou.
Ela criticou a política do toma lá dá cá. “Estou muito esperançosa em trazer para o Amazonas um outro tempo. Um tempo em que os eleitores escolhem os seus candidatos pelas propostas e não por venderem seu voto, ou por não terem esperança, ou por acharem que tanto faz ser qualquer candidato e sim por uma escolha mais consciente mesmo”.
Marília diz que o jogo político é sustentado por candidatos que estão sempre alimentando as necessidades econômicas e sociais de alguns eleitores em troca de votos. “Nas ruas as pessoas me pedem dinheiro, óculos, rancho. Não é uma política que eu faço, não vou fazer, mas eu percebo que é uma prática que as pessoas estão acostumadas a encontrar, vindas de candidatos que estão aí há mais tempo”.
Por esse motivo, a candidata é contra a reeleição. “A pessoa que está no Senado há oito anos, o que ela tinha que fazer politicamente pelo seu Estado ela já fez. Se não fez foi por incompetência”, afirma.
Confira a entrevista na íntegra.