Por Patrícia Borges, da Redação
MANAUS – Drag queen e ativista ambiental, Uýra Sodoma representa o Amazonas com seis fotografias expostas na 38ª edição do Salão Arte Pará, lançada este mês com a exposição ‘Deslendário Amazônico – 80 anos de Paes Loureiro’, em exibição até o dia 22 de dezembro no Museu do Estado do Pará, em Belém.
Emerson Munduruku, biólogo e artista que dá vida à Uýra, é o único artista que atua no Amazonas a compor a mostra. Divulgação do trabalho nas redes sociais rendeu o convite para participar do evento.
“O Orlando Maneschy, curador, artista visual bastante respeitado, entrou em contato desejando conhecer mais do meu trabalho. Ele já me acompanhava pelo Instagram e a gente conversou, ele me apresentou a temática do ano e fiquei bastante interessado em somar a este salão de bastante prestígio em arte aqui da Amazônia. É o maior salão de arte da região Norte, infelizmente, eu sou o único artista do Amazonas lá”, disse.
‘Deslendário Amazônico’ tem curadoria de Orlando Maneschy e curadoria adjunta de Keyla Sobral. Maneschy se diz instigado com o compromisso ético, ecológico e político de Uýra. “Para além da beleza das imagens, Uýra traz todo o pensamento de Emerson, enquanto biólogo, expandindo para o campo da arte sua reflexão crítica sobre a ação violenta do homem na natureza. O trabalho de Emerson é instigante. Uyra traz a voz da própria natureza para a sociedade, em um importante ato crítico. A repercussão é muito boa”.
Das seis fotos que compõem a exposição, quatro são assinadas por Matheus Belém, uma de Ricardo Oliveira e uma de Sidri Mendes. Emerson explica que as imagens propõem debate sobre a natureza a partir de uma perspectiva entre a cidade e a floresta.
“Acredito que o trabalho com a Uýra, que parte de um corpo indígena contemporâneo, de um Emerson que vive dentro de uma cidade, o tempo todo propondo o aldeamento, coletividade e bem estar em comunidade, propõe um olhar para violências naturalizadas, e todas essas questões estão colocadas nas imagens escolhidas por mim e Orlando”, disse.
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Emerson também explica que a exposição proporciona um diálogo entre o artista e a sociedade e a expectativa é que um público amplo e diverso tenha acesso e reflita sobre as questões colocadas por Uýra. “São artistas, curadores, pesquisadores, pessoas da educação, da política e da sociedade aberta que vão visitar essa exposição até dezembro. Pessoas de todas as idades, diferentes classes sociais, acredito que de diversas visões políticas e me interessa esse público tão amplo.”
O artista também analisa a participação na exposição como um complemento de prestígio ao seu trabalho de performances feito direto nas ruas, e diz que o objetivo é ocupar cada vez mais espaços com arte.
“Eu tenho um trabalho que é de diálogo com gente, direto com as ruas, com as encruzas e eu acredito que uma ocupação que também chegue a um espaço de tanto prestígio é de enorme importância, porque quanto mais espações ocupados com as nossas narrativas, melhor.”
Pesquisador, artista, curador, crítico e professor da UFPA (Universidade Federal do Pará), Orlando Maneschy diz que a produção artística da Amazônia é potente, intensa e de resistência. Ele cita artistas e produções de relevância na região.
“Desde os anos 1980, o seminário As Artes Visuais na Amazônia, em Manaus, por exemplo, conectou artistas e pesquisadores do Pará e Amazonas e provocou produções no Pará como as obras de Emmanuel Nassar e Luiz Braga. Em Manaus, Roberto Evangelista que participou de bienais em São Paulo e é um dos grandes artistas da região. Entender que a Amazônia existe e tem sua potência é fundamental para que as pessoas compreendam que há outros movimentos para além do lugar comum”.
Salão Arte Pará
Lançada no dia 10 de outubro, a 38ª edição do Salão Arte Pará, promove uma exposição no Museu do Estado e uma mostra no Museu da UFPA, em Belém com trabalhos de cerca de 100 artistas paraenses. O evento acontece até 22 de dezembro, com visitação gratuita.
O Museu do Estado recebe “Deslendário Amazônico”. De curadoria de Orlando Maneschy e curadoria adjunta de Keyla Sobral a exposição celebra o pensamento do poeta João de Jesus Paes Loureiro em seus 80 anos.
A mostra do Museu da UFPA é de curadoria de Nina Matos e traz o tema “As Amazonas do Pará”, dando ênfase ao protagonismo feminino na produção artística paraense.