Da Redação
MANAUS – Um paciente com câncer na cabeça que precisa de uma neurocirurgia de urgência no Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado (HPJLPM), internado desde o último mês de setembro, está impedido de receber o procedimento por falta de materiais para esse tipo de cirurgia.
A justificativa foi dada pelo diretor do hospital, Antônio Carlo da Silva Nossa, ao juiz plantonista Everaldo da Silva Lira, após ação impetrada pelo serviço de plantão da DPE (Defensoria Pública do Estado do Amazonas). Uma ação pedindo a realização imediata da cirurgia já havia sido impetrada no Tribunal de Justiça pela Defensoria Especializada na Promoção e Defesa do Direitos Relacionados à Saúde, mas com o agravamento do caso, os familiares do paciente Rodrigo da Silva Araujo, 35, recorreram ao plantão da DPE.
De acordo com o irmão de Rodrigo, Roberto Araújo, após a ação da Defensoria, a única providência tomada no hospital foi a transferência de Rodrigo para uma enfermaria com assistência de enfermeiros por 24hs.
Em setembro, Rodrigo foi vítima de um atropelamento por um ônibus e ao ser internado, foi descoberto um nódulo na cabeça, mas ele à época resistiu em fazer a cirurgia com medo de sequelas graves que poderiam ocorrer. No entanto, com o crescimento do nódulo, foi necessário abrir o crânio dele, procedimento que foi feito em outubro e se mantém sem que a cirurgia seja feita.
“É preciso que seja feita a retirada de massa tumoral, mas a direção do hospital diz não ter material e a Susam informou que o hospital tem autonomia para comprar, pois procurei a Ouvidoria deles para reclamar”, disse Roberto, pedindo que providências sejam tomadas para evitar danos maiores ao irmão. A cirurgia poderia ser feita ou na Fundação Centro de Oncologia do Amazonas (FCecon) ou no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), mas segundo informações da direção do João Lúcio, não há vagas.
Roberto Araújo desconfia da falta de leitos e da impossibilidade da cirurgia no próprio João Lúcio, pois disse que todas as terças e quintas-feiras são feitas cirurgias em pacientes, mas nunca sobram vagas para os que estão internados. “Eles só operam os que vêm de fora”, lamenta, revelando que todos os dias há morte de pacientes nessa enfermaria onde está o irmão dele. Outro problema grave apontado por ele é a falta de materiais como esparadrapo ou gaze para um procedimento mínimo no irmão.
Para o defensor Arlindo Gonçalves dos Santos Neto, da Defensoria Especializada na Promoção dos Direitos Relacionados à Saúde, o caso do Rodrigo retrata o estado de abandono em que se encontra a saúde no Amazonas. “E é algo que não faz sentido, pois gastamos muito com a saúde. A cada R$ 100 do Estado, R$ 24 vão para a saúde. Algo precisa ser feito para reparar essa falta com nosso povo”, disse ele, revelando continuar buscando solução para esse caso. Como medida tomada, foi solicitado orçamento para o procedimento na rede privada, cujas respostas foram juntadas aos autos do processo. “A Defensoria pediu bloqueio de verbas públicas para que o procedimento seja realizado porque, mesmo entendendo que essa solução traz ônus para o Estado, não se pode ficar indiferente diante da situação grave vivida por esse paciente”, finalizou o defensor.