
Da Folhapress
RIBEIRÃO PRETO – Aplaudido pela equipe médica que o atendeu no hospital, o empresário José Luiz Felício Filho, 43, recebeu alta nesta quarta-feira, 8, depois de 21 dias internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a maioria deles intubado, em tratamento contra a Covid-19.
Presidente de duas companhias aéreas -Voepass e MAP- que suspenderam todos os voos no período em que estava no hospital Ribeirânia, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), Felício é protagonista de uma história em que sabe contar bem o início, que o fez ir ao hospital, e como tem sido sua vida nos últimos dias, mas não tem ideia de todo o enredo.
“Acordei num outro planeta, infelizmente. Dormi num mundo, acordei em outro. Tenho só flashes, mas quase nada. A última cena que lembro foi chegando ao hospital. Depois, só o que ocorreu de domingo, 5, quando saí da sedação, para cá. Me assustei quando soube que já era abril. Perdi a noção com o coma induzido”, afirmou ele.
O empresário, que tem asma, disse ter viajado muito na semana do dia 8 de março para cidades como São Paulo e Brasília. No final daquela semana, passou mal e foi ao hospital para fazer aerossol, pensando se tratar de uma crise asmática.
“Diagnosticaram que poderia ser suspeita de coronavírus ou H1N1. Eu já estava com todo o quadro, como febre e insuficiência respiratória.”
Quando foi internado, Ribeirão Preto não tinha oficialmente nenhum caso da doença. Segundo a prefeitura, nesta quarta-feira, 8, já eram 122, com quatro mortes, uma delas de um paciente de 76 anos no hospital em que ficou internado.
No local, outros oito pacientes receberam alta médica até terça-feira, 7. Entre todos que já tiveram alta no Ribeirânia, o caso de Felício foi considerado o mais crítico.
Em um vídeo divulgado pelo hospital, o médico Marcelo Bonvento, que chefia a UTI, disse que Felício era um vencedor por ter se recuperado de um quadro grave e que levou sua equipe toda para recebê-lo para que as pessoas se sintam motivadas.
“O nosso trabalho se repete todos os dias, mas é quando a gente vê um paciente que está de alta, recuperado, totalmente curado, é que muda a nossa vida”, disse o médico no vídeo.
Sua mulher e os três filhos também contraíram Covid-19, mas em todos os quadros foram mais brandos. Tiveram febre, mas foram tratados em casa mesmo.
Em seu tratamento, Felício disse ter sido medicado com hidroxicloroquina e, em sua avaliação, o remédio foi decisivo para a sua recuperação.
“A doença chega de forma silenciosa e, quando você vê, ela já dominou. É preciso acreditar nos médicos e na ciência. Depois desse vale sombrio em que estive, diria que está tudo ótimo. São coisas que não esperamos que aconteçam com a gente. E, se fosse [Covid-19], pensava que seria simples, mas foi a forma grave. Sorte que Deus me fez cair nas mãos de uma equipe excelente, das pessoas certas”, afirmou.
O empresário diz estar 100% curado da Covid-19, mas muito debilitado devido às três semanas de hospitalização. Está fazendo sessões de fisioterapia em casa e só poderá deixar o isolamento no dia 16.
A companhia aérea Voepass (novo nome da Passaredo) tem sede em Ribeirão e paralisou totalmente as atividades devido à pandemia do novo coronavírus, que derrubou a venda de passagens e aumentou os casos de no-show (passageiro que não aparece para o embarque) e cancelamentos.
O anúncio da paralisação foi feito em 20 de março, quando o empresário estava na UTI, e atingiu também outra aérea, a MAP, controlada pela Voepass. Juntas, elas voavam para 40 destinos. Em comunicado, informaram considerar o período como “hibernação”, para que consiga em curto prazo voltar a operar.