EDITORIAL
MANAUS – O secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Louismar Bonates, usou a seguinte expressão ao falar sobre os ataques de organizações criminosas em Manaus, Parintins e Careiro, na madrugada deste domingo: “A polícia será extremamente rigorosa contra essas pessoas”.
É exatamente o que falta às forças de segurança pública, à legislação penal e às autoridades com poder de decisão no Brasil: ser extremamente rigorosos com quem pratica crimes, a começar pelo domínio dos presídios.
Pela falta de rigor nas cadeias brasileiras, impera a força das organizações criminosas, que passaram há alguns anos a dominar os presídios.
Os eventos ocorridos na noite de sábado, 5, e madrugada de domingo, 6, são uma demonstração clara do nível de organização dos criminosos. O próprio secretário informa que a ordem para incendiar ônibus, carros oficiais e prédios públicos e privados partiu de dentro de um presídio.
Em qualquer país em que as forças de segurança têm domínio sobre os presídios, essa notícia soaria absurda, mas no Brasil é encarada com naturalidade até pelo secretário de Segurança do Estado em que os fatos ocorrem.
Noticiar que a ordem partiu de um presídio é admitir que os presídios não guardam qualquer segurança de dentro para fora nem de fora para dentro. O isolamento dos presos, como determina a legislação, inexiste.
Outro fato que chama a atenção é que a morte do traficante que motivou os ataques, como informou Bonates, ocorreu depois de 20h do sábado. Pressupõe-se que a notícia correu rápido e chegou ao presídio e, de lá, outros criminosos, rapidamente, acionaram a organização do lado de fora, que promoveu os ataques.
Um presídio administrado com extremo rigor não permitiria nem que os presos soubessem da morte de uma pessoa fora do presídio e nem que as ordens de comando para queimar carros e prédios saíssem de lá.
Esse é um tipo de problema que não se resolve com a transferência para presídio federal de quem deu a ordem. Se não houver uma mudança de atitude das autoridades para tirar das organizações criminosas o domínio dos presídios, nada vai mudar, porque enquanto um “comandante” é retirado do presídio, há pelo menos outros dez na fila de espera para assumir o lugar dele.
Portanto, os episódios da madrugada deste domingo mostram que o domínio das organizações já transbordou para fora dos presídios. Agora, é preciso fechar as torneiras e trabalhar de forma “extremamente rigorosa” para recuperar o comando desses locais.